No Acre, projeto desenvolve leitura e escrita em presídio feminino

Um grupo de mulheres idealizou um projeto voltado para o desenvolvimento de estratégias de leitura e escrita como forma de proporcionar conhecimento, informações e reflexões a partir de temáticas como gênero e raça para 50 mulheres privadas de liberdade em Rio Branco, na Unidade de Regime Fechado Feminina do Complexo Penitenciário de Rio Branco.

O projeto chamado “Escrevivências da libertação: releituras e reconstruções de trajetórias” incentiva que as mulheres desenvolvam “Escrevivências”, termo discutido por Conceição Evaristo, com foco no sentido dos planos de saída, do fortalecimento da autoestima e das possibilidades de redirecionamento de suas trajetórias de vida, além de ser voltado também para a remição de pena por leitura e práticas sociais, segundo a Resolução 391/2021, Art. 4, Incisos de I a VII.

Segundo Samila de Paula, professora e uma das participantes do projeto, “é importante visibilizar não só o propósito inovador deste projeto, mas o contexto situacional e estrutural do racismo contra mulheres negras e do encarceramento em massa da população negra em nossa sociedade”.

Foto: Reprodução

De acordo com a professora, alguns dos temas discutidos são racismo, machismo, patriarcado, feminismo, feminismo negro, colorismo, pertencimento, empoderamento, interseccionalidade, coletividade, dentre outros. 

“Nós, utilizamos livros ilustrados com personalidades negras que marcaram e marcam nossa história, em destaque estão os livros da coleção Black Power da Editora Mostarda: Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus, Laudelina de Campos Melo, Alice Walker, Angela Davis, Rosa Parks, Nelson Mandela, Martin Luther King e Dandara e Zumbi . A apreciação das imagens e das histórias de vida de pessoas que tanto lutaram para construir novas trajetórias são inspirações que acabam empoderando as mulheres que estão em cárcere”, explica Samila. 

Foto: Arquivo pessoal

A professora e pesquisadora Cláudia Marques desenvolve rodas de leitura e conversa, trazendo a tônica dos círculos de cultura de Paulo Freire e a visão de mundo e de si junto às mulheres em primeiro momento, enquanto Samila desenvolve a metodologia do Teatro do Oprimido junto com a Escrita Terapêutica, potencializando o corpo que é privado não só de liberdade, sendo a primeira vez que essa metodologia é trabalhada dentro do sistema prisional.

Outras mulheres como Maria de Nazaré, a conhecida Mariazinha, da Associação de Direitos Humanos, dos Familiares, Amigos e Reeducandos do Estado do Acre; Maria Liberdade, sobrevivente do cárcere; Maya Dourado, escritora, cantora e poeta; Sulamita Rosa; Jessica Luana; Andrisson Ferreira; Soleane Manchineri, ouvidora geral da Defensoria Pública do Estado do Acre; Pamela Dias Villela, assessora do CNJ;  Andrea Brito, juíza; Flávia Nascimento, Defensora Pública; Solene Costa, ex ouvidora, fortalecem na construção do projeto.

Foto: Reprodução

O projeto teve início em 2020, a partir de um edital do Fundo Brasil “Direitos Humanos e Justiça Criminal – Combatendo o encarceramento em massa no Brasil”, mas as conversas com as mulheres iniciaram em março de 2022.

Atualmente, fazem parte do projeto 20 mulheres negras privadas de liberdade, 60 policiais penais e servidoras do administrativo, 3 mulheres familiares e egressas atuando diretamente nas atividades e ações do projeto, 15 pessoas envolvidas em algum nível dentre as equipes de trabalho, 30 a 40 pessoas das gestões e das diferentes instituições que foram acionadas ou articulam ações, parcerias ou demandas, 11 pessoas da cela LGBTTQIA+ do presídio masculino e 5 policiais penais do presídio masculino.

Dificuldades

Segundo Samila, as dificuldades são inúmeras e “trabalhar no sistema não é fácil”, mas que apesar dos desgastes e enfrentamentos, o grupo conseguiu apoio e fortalecimento em parcerias que garantem a permanência do Escrevivências da Libertação dentro do sistema prisional.

“Sempre surgem coisas que atrapalham o desenvolvimento, o próprio preconceito para com as pessoas privadas de liberdade limita muitas atividades dentro do presídio. Tivemos muitas dificuldades em relação ao entendimento da importância de um projeto como este, preconceitos em relação a abordagem da metodologia, dificuldade de comunicação com equipes”, explica.

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