“Ele me ligou 16 vezes antes de morrer”, diz mãe que teve filho morto em boate no Acre

Durante depoimento no primeiro dia de julgamento do policial federal Victor Campelo, acusado de matar o jovem Rafael Frota, em julho de 2016, a mãe da vítima, Alcineide Frota, informou que o filho ligou 16 vezes para ela antes de morrer, na madrugada em que o crime aconteceu.

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Segundo relatado, Rafael havia tomado tiro disparado pela arma do PF e caído no chão, na parte de baixo da boate. Uma amiga que acompanhava a vítima e estava na parte superior, no camarote, desceu e encontrou Rafael ferido.

Da esquerda para a direita: o PF acusado pelo crime, e o jovem Rafael Frota/Foto: Reprodução

A vítima teria pedido para que a amiga desbloqueasse o seu celular para que ele pudesse ligar para a mãe. “Eu não vi as ligações. Deixei meu celular no silencioso. Na hora ele tentou falar comigo”, disse Alcineide.

A mãe informou que viu o filho apenas no Pronto-Socorro de Rio Branco, já morto.

Durante o testemunho, os advogados de defesa decidiram não fazer perguntas à mãe.

“Não sou Deus para perdoar”

Ao ContilNet, Alcineide disse que espera há 6 anos e 6 meses pelo julgamento. “Eu espero que seja feita a justiça. Que as calúnias que foram feitas em relação ao meu filho sejam esclarecidas”.

Morando há 2 anos em João Pessoa, na Paraíba, Alcineide voltou ao Acre para acompanhar o julgamento. Ela criticou o fato do acusado alegar legítima defesa, mas diz não desejar o mal de Victor.

“Não desejo nada de ruim pra ele. Tirou a vida do meu filho dizendo que foi legítima defesa. Não sei que legítima defesa é essa se meu filho nem conhecia ele”.

Em 2016, foi expedido um alvará de soltura a Victor, que voltou a exercer suas atividades como Policial Federal em outro estado brasileiro. Questionada sobre se achava correto, Victor voltar às suas funções mesmo sendo acusado de cometer homicídio, Alcineide disse que o cenário já é conhecido.

“Isso já se esperava. Como sempre, eles se protegem muito. Na época, ele estava em estado probatório. Só dele ir a júri popular já é uma grande coisa. Nunca um policial federal pagou pelos seus erros que fez aqui. Fazem o que fazem, depois vão embora e acabou ali. E ele não. Vai ser julgado”, opina.

Alcinete declarou que não tem como perdoar Victor. “Não sou Deus para perdoar, não tenho ódio dele, graças a Deus. Mas eu tenho uma mágoa muito grande. Quiseram deixar meu filho como se ele fosse o assassino, que meu filho era o bandido da história”.

A mãe da vítima conclui dizendo que não espera a prisão do acusado.

“Não queria nem que ele fosse preso, queria que ele perdesse a farda, porque ele não tem competência para ser policial federal. Ele não tem competência para proteger vidas, se ele tira vidas”.

Entenda o caso

Na madrugada de 2 de julho de 2016, durante uma confusão em uma casa noturna em Rio Branco, o policial federal Victor Campelo foi acusado de ter disparado com arma de fogo dentro da boate, um desses tiros atingiu o estudante Rafael Frota, que chegou a ser socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas morreu na sala de cirurgia do Pronto-Socorro de Rio Branco.

Além de Rafael, os tiros também atingiu um homem e a própria perna do policial federal, que ficou internado no Pronto-Socorro devido aos ferimentos.

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