Ana Ribeiro: Ela vendia empadas e hoje faz jogos de realidade virtual

Conheça a trajetória de Ana Ribeiro, desenvolvedora brasileira que conquistou o mundo

Quem vê a produtora de jogos Ana Ribeiro em eventos de games internacionais não imagina a longa trajetória da criadora da franquia Pixel Ripped. Natural de São Luiz do Maranhão, Ana se descreve como uma ‘nômade digital’ e sempre foi apaixonada por jogos, desde a infância e ao longo de suas outras carreiras.

A primeira memória que eu tenho de criança é do meu pai chegando em casa, com uma coisa que você controlava e mexia na televisão, era um Atari”, relembra Ana em entrevista ao Game On. “Eu tenho três irmãos e nos anos 80, os videogames não eram ‘marketeados’ para meninas, tive sorte de ter meus irmãos e cresci jogando, tive um Phantom System, um Mega, Xbox. Joguei Counter-Strike em um clã profissional, onde conheci minhas melhores amigas”.

Porém, durante a juventude, os games eram uma diversão e Ana não via o desenvolvimento de jogos como um objetivo. “Era aquela coisa que eu fazia quando não estava estudando, nem trabalhando. Me formei em Psicologia, passei em concurso. Fiquei 5 anos no tribunal de justiça, mas era um trabalho muito burocrático, muito estável. Para mim, era uma prisão, eu busco totalmente o oposto da estabilidade. O que me empolga é o desafio”.

Foi no tribunal que Ana começou a vender empadas. “Sempre tive um lado empreendedor,o negócio das empadas cresceu e em seis meses comprei carro, montei uma cozinha industrial. De repente estava vendendo 4 mil empadas!”, relembra. O sucesso no ramo gastronômico foi o empurrão para largar o emprego concursado. “Estava reformando a casa do empada, fiz um curso chamado Empretec e lá descobri que estava no rumo errado”.

O curso de empreendedorismo fez Ana questionar se queria estar fazendo empadas nos próximos 5 ou 10 anos. “Mudou a minha vida”, conta. “Eu já tinha 30 anos. Resolvi chutar o pau da barraca e trabalhar com jogos”. Ana decidiu sair de São Luiz e ir morar na Europa.

“Achei o curso na Inglaterra, eu não sabia fazer nada, só jogar. Aprendi programação na SEI em Londres, foi bem hardcore. Me deu uma base boa para quando comecei a  usar as engines como Unreal, Unity, aprendi a fazer do zero primeiro”.

Depois desse curso, Ana fez um mestrado na National Film & Television School, onde aprendeu a trabalhar com 3D, arte e desenvolveu as habilidades para ser diretora de games. “É a minha profissão hoje, foi o curso perfeito, aprendi a lidar com produtor, a montar um time e como trabalhar com diferentes profissionais”. Foi nesse curso que Ana criou seu primeiro game, Pixel Ripped.

Não que o caminho tenha sido fácil: “Conseguir investimento era difícil, Kickstarter falhou, fui para os Estados Unidos arrumar investimento no Vale do Silício, depois tive que arrumar outro emprego por um ano”, foi em 2017 que Ana encontrou a Árvore, empresa que abraçou a ideia do game e conseguiu oferecer o apoio que a diretora precisava para concluir e lançar o projeto.

Pixel Ripped

Pixel Ripped 1995 é um jogo de realidade virtual e Ana está entre os desenvolvedores que abraçaram a tendência lá no começo, quando não se sabia ainda se o segmento iria vingar. “Eu trabalho há 10 anos com realidade virtual, já não é uma dúvida, veio para ficar”, aponta a diretora. Ela reconhece que o primeiro Oculus Rift causou muito hype e não entregou tanto, mas a chegada do Quest 2 durante a pandemia representou uma guinada na indústria.

“Quando lançamos o primeiro Pixel em 2018, só tinha VR no PC, era um mercado pequeno. O segundo jogo, Pixel Ripped 95, se pagou em menos de três meses. O primeiro levou um ano”, conta Ana, apontando o crescimento do mercado de jogos em realidade virtual.

O que falta para deslanchar? “Estamos num momento cruscial no setor. Os headsets ainda são pesados, mas estamos naquele momento em que está para se lançar o primeiro iPhone”, compara a diretora. “Estamos na era do Blackberry, ainda não é algo adotado massivamente. Precisamos chegar nos headsets pequenos e baratos”.

A diretora explica que já existem headsets assim, mas que ainda são inacessíveis para o mercado de massa. “A Bigscreen anunciou um óculos que é pequeno, do tamanho de um par de óculos normal e é bonito. Ele é leve! Mas ainda está muito caro”.

A competição no setor, com a Apple entrando na disputa, vai ser boa para os produtores e para os consumidores, na opinião de Ana. “Mais gente está lançando seus headsets VR, até então era só a Meta que dominava o mercado”. Com um futuro promissor, estúdios como a Árvore, onde Ana trabalha, têm conseguido se sustentar e se preparar para o próximo salto nessa evolução. “Um dia todo mundo vai ter um headset de realidade virtual, vai ser como aconteceu com a TV e com a internet”.

O terceiro jogo da série, Pixel Ripped 1978, já está chegando e promete ser o maior e mais complexo da franquia, graças ao apoio da Atari, que será a publicadora. “Em breve vamos anunciar a data e aí é trabalhar no pós-lançamento, o plano é fazer o próximo jogo junto com a Árvore, empresa com quem eu trabalho desde 2017”. A parceria com a Atari permitiu o uso de todas marcas clássicas de forma oficial. “Asteroids, Adventure, Missile Command, Centipede… é o maior jogo que já fizemos”.

Marketing inusitado – e que deu certo!

Outra paixão de Ana, o cosplay, acabou se tornando ferramenta de marketing para a franquia Pixel Ripped. “Eu sempre gostei de ir aos eventos fazendo cosplay. Eu ia de She-ha, de Sakura e Hinata de Naruto, sempre gostei disso, sou bem nerd, fazia combate de mago de Harry Potter”.

No final do mestrado, ela iria expor seu primeiro jogo em um grande evento em Londres. “E aí eu não tinha minha roupa da She-ha e pensei em me vestir da personagem do meu jogo!”, explica.

“Foi a melhor ideia de marketing que eu tive”, revela Ana. “Eu já ando com cartões com o Instagram no bolso do cinto, as pessoas tiram foto e eu apresento o jogo, sem cosplay eu nem sou reconhecida, virou minha marca, chama muito a atenção e ajuda muito na divulgação”.

Olhando para trás, Ana Ribeiro só tem um conselho para a Ana do passado – e para quem sonha em também se tornar desenvolvedor de jogos. “Começa logo a fazer jogos! Participa de Game Jams, faz contatos. Comece e termine um projeto, pela experiência e para saber qual área você gosta mais e foque nela. Nem todo mundo é generalista! Só começa!”.

Ambos jogos para realidade virtual, Pixel Ripped 1989 e Pixel Ripped 1995 estão disponíveis para PC, via Oculus e Steam, e para PSVR.

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