No último domingo (21), Sabryna Oliveira, mulher trans acreana, divulgou nas redes sociais vídeos em que acusa a própria irmã de transfobia.
Sabryna diz que a irmã, que é missionária, age de forma transfóbica com ela, a chamando pelo nome civil. “Se vocês souberem o que ela fez comigo, me desrespeitando só por eu ser trans e ela ser missionária. Nem a minha mãe é assim como ela é”, diz.
No vídeo, Sabryna diz que a irmã a chama de “endemoniado”, pede para que as pessoas compartilhem o vídeo e que vai buscar os direitos.
Em uma sequência de stories no Instagram, Sabryna diz que não são todos os envangélicos que agem desta maneira. “Mas alguns agem dessa forma como a minha irmã age comigo. Me ajudem a divulgar. Por mais que ela seja minha irmã, a pessoa da família tem que respeitar sua sexualidade e ela não respeita. Eu vou procurar meus direitos, não vou deixar barato”, explica.
Ao ContilNet, Sabryna disse que está em contato com uma pessoa do Ministério Público do Acre (MPAC), que está auxiliando na busca pelos direitos. “Eu não sei bem o que fazer, pois nunca fui em uma delegacia, não tenho nome sujo em delegacia, mas uma moça já está me auxiliando, que trabalha com pessoas LGBT, que entrou em contato comigo e eu vou buscar meus direitos”, diz.
Sabryna contou também que já sofreu outros casos de transfobia. “Ela sempre foi assim comigo, nunca me respeitou e eu sou uma pessoa que evito conversar com ela para não ter atrito e ela mesmo vem me tratando no masculino e eu pedi que ela me respeite. Eu respeito a decisão dela de seguir a religião e eu quero que ela respeite a minha decisão. Eu aguentei isso há muito tempo, fiquei calada muito tempo, eu falei que se isso acontecesse de novo, eu ia procurar meus direitos e ela pensando que era brincadeira minha. Eu já sofri de outras pessoas também, mas da família dói mais. Eu não ligo quando falam mal de mim pois não convivem comigo, mas quando é sangue do meu sangue, machuca”, explicou.
A reportagem do ContilNet entrou em contato com a irmã de Sabryna, Adriana, que se pronunciou sobre o ocorrido. Confira:
“A gente estava numa discussão de família, porque minha mãe machucou a mão e minha irmã foi ajudar a minha mãe, porque lá em casa é só meu pai e minha mãe, que são idosos, e meu irmão, que é esse aí que fez a denúncia, Feliciano [referindo-se à Sabryna], e meu sobrinho. A gente estava lá, cheguei de manhã, passar o domingo com a minha mãe, fui comer uma tapioca mais a minha irmã. E eu falei para minha irmã, nós entramos num debate ali, aí eu peguei e disse para ela que quem tem que cuidar da mãe daqui de casa é ela, porque ela é mulher, porque aqui em casa só tem o Feliciano de homem e o outro irmão, quando eu falei isso, que eu sempre chamei ele dessa forma, de Feliciano, ele pegou e começou a debater, começou a dizer que ia me denunciar e até então eu não pensava que isso era comigo, eu pensei que era com a minha irmã”.
“Eu até falei com a minha irmã para não ligar, que o Feliciano é ignorante. A gente estava conversando e minha mãe dizendo que o pessoal suja a louça e não lava, ai eu peguei e disse “Mãe, se todo mundo lavasse sua louça, se todo mundo cooperasse… Onde mora muita gente na casa, todo mundo tem que se ajudar, o Feliciano, que é homem, ele tem que lavar a louça também. Sujou um copo, lava. O Maik também, sujou um copo, lava'” Ai ele pegou e disse que eu fiz homofobia com ele, que eu discriminei ele, que eu chamei ele de Feliciano, que ele é mulher trans, que ele não é homem”.
“Eu disse “Para mim, você vai ser sempre meu irmão, para mim vou sempre lhe chamar pelo nome”, falei para ele. Aí foi que ele pegou, começou lá os gritos, na minha frente, da minha mãe que é idosa, do meu pai, não respeitou meu pai, estava eu e a minha irmã na mesa, na hora do café da manhã, no vídeo mostra até uma tapioca. Ele começou os gritos, que ele é escandaloso, ele começou a filmar, filmou a minha imagem e eu continuei no meu canto, em nenhum momento no vídeo eu falo que ele é gay, que ele é travesti, que ele fez isso ou aquilo. E outra, eu não tinha falado que ele vive dentro da casa da minha mãe, o Feliciano tem quase trinta anos, se não tem mais de 30, ele fuma droga na frente da minha mãe, do meu pai, se droga, vai para dentro de casa, ele já saiu umas três vezes e voltou. Ele era evangélico, pregador da palavra, ganhou várias almas para Jesus, viajava esse mundo inteiro pregando, já se desviou umas três vezes e agora ele dizendo que eu sou homofóbica. Eu não sou homofóbica, já tive um filho homossexual, hoje ele não é mais, Graças a Deus. E eu tenho minha mãe como testemunha, eles podem se pronunciar também. Nós estamos a disposição, pois quem não deve não teme”, disse ao ContilNet.
Nota da redação:
Reproduzimos o pronome masculino utilizado pela entrevistada para manter na íntegra o discurso, mas nos referimos à Sabryna como “ela”, a partir de sua identidade de gênero.