“O assassino na televisão e meu filho em um baú”, desabafa mãe de Jeff

A conversa foi exibida, no último domingo (4/6), no Domingo Espetacular, da Record

Como afirma o conhecimento popular, uma mãe nunca está preparada para enterrar um filho. Mas foi isso que aconteceu com Maria das Dores, mãe do ator Jeff Machado, e de uma forma inesperada. Ainda muito abalada com a perda do filho, ela conversou, com exclusividade, com esta colunista que vos escreve, e abriu seu coração.

Entre as recordações da infância de Jeff, que já sonhava com os palcos e a TV, e as informações sobre o crime em si, Maria das Dores ainda questionou a entrevista exclusiva que Bruno de Souza Rodrigues, acusado de participar do assassinato do ator, deu ao jornalista Roberto Cabrini. A conversa foi exibida, no último domingo (4/6), no Domingo Espetacular, da Record TV:

“O assassino sendo entrevistado… e por que não estava sendo preso? Não existe uma tecnologia que a pessoa sabe de onde o celular está ligado? Quer dizer: o assassino está, assim, de peito aberto, falando na televisão como um artista. E o meu filho lá dentro de um baú, morto”, desabafou.

Esta colunista, mãe de uma adolescente, se solidariza com dona Maria das Dores. Porque quando uma mãe chora, choram todas as mães.

Veja a entrevista completa a seguir:

Seu filho sonhava ser ator, estava batalhando por esse sonho. A senhora o incentivava nessa nova carreira? Quais eram seus conselhos para o Jefferson?

O Jeff, esse moço jovem, que sonhou, um dia, estudar muito, muito, para ser ator… Desde pequeno, no colégio, ele sempre fazia aulas de teatro, sempre teve bastante desenvoltura nessas aulas. Por isso, a própria professora incentivava. E eu, como mãe, sempre incentivei porque o Jeff, quando foi pro Rio, fez trabalhos nos elencos de apoio na Record, auxiliou em trabalhos de novela também na Globo. E como ele fez um trabalho muito bonito, eu incentivei. Além de ele ter o porte, toda postura e toda dedicação. Ele fez vários cursos específicos pra ser ator. Jeff é formado em jornalismo, cinema e produção, no Rio. Aqui em Porto Alegre, ele fez direito na PUC e faltou um semestre pra se formar.

O que a senhora sabia sobre Bruno antes do crime? Em algum momento chegou a desconfiar que ele não fosse uma boa companhia ou mesmo que estivesse enganando o Jefferson?

Ele encontrou, eu acho que nas redes sociais, esse rapaz chamado Bruno que, sentindo o sonho do Jeff ser ator, disse que poderia colocá-lo em uma novela. E isso faz mais de 3 anos! Tem mais de 3 anos que ele foi tentando ludibriar o Jefferson. E o Jefferson sentiu que poderia ser ele a pessoa. Então, esse falso amigo entrou e foi enrolando, enrolando, e o Jefferson acreditando. Eu dizia: ‘Meu filho, as coisas não são bem assim’. Eu não podia dizer: ‘vai dar certo’. (Ele pedia) ‘a senhora me ajuda a rezar, que vai dar certo’. Eu disse: ‘Não. Espera, tu tens todos os diplomas, tens postura, tens trabalhos nos canais de televisão’. (Mas ele insistia) ‘não, mas ele vai conseguir’.

Além desse Bruno, tinha um outro que dizia que era o agenciador principal, que era um Felipe, que até agora não apareceu. Não sei quem é o Felipe. Mas a maldade já vinha sendo feita três anos e pouco atrás, antes da pandemia. E como veio a pandemia, pararam as gravações, teve esse espaço. E depois, como agora já estava gravando, ficou essa história de: ‘é amanhã, corta o cabelo, deixa o cabelo crescer, engorda, emagrece’. Então, o Jeff foi usado nesse sonho que ele queria, fazendo a vontade dessa pessoa que mentiu pra ele, que ele poderia ajudar pra entrar nessa novela.

É muito difícil quando a pessoa se apresenta como amigo e o outro, fragilizado, tem um sonho, e não enxerga a maldade. Aqui de longe, eu dizia: ‘Meu filho, te cuida. Aí é uma cidade grande, Rio de Janeiro, ninguém conhece ninguém’. (E ele respondia) ‘não, não, mas ele é uma pessoa boa’. Então, ele (o Bruno) se apresentou como uma pessoa boa, um lobo vestido de cordeiro. E foi o que aconteceu, que todo mundo tá vendo a história toda. Isso é uma coisa inacreditável, uma pessoa ter a frieza de fazer o que o fez com o Jefferson e ainda procurando se defender.

O Bruno chegou a usar as redes sociais do Jefferson para publicar uma mensagem de despedida, depressiva, com teor suicida. Naquele momento, vocês cogitaram que seu filho poderia estar mesmo passando por um problema emocional?
Sim, o Bruno usou as redes sociais porque eles mataram ele. A partir do dia 23 (de janeiro), o celular do Jefferson, a internet, o WhatsApp, não era o Jeff quem escrevia. Eu conheço a maneira como ele escreve, inclusive palavras que não eram do vocabulário dele. E eu já notei que não era o Jefferson. E ele (Bruno) tentava responder como se fosse o Jefferson, mas eu disse ‘não, não é por aí’. Era mentira por cima de mentira, postando mensagem de ‘eu quero paz’. O Jefferson é um homem de paz, um moço iluminado, lindo, puro, inocente. Ele não iria colocar esses textos. Então, já foi visto que não era o Jefferson. Desde o começo, fizemos o Boletim de Ocorrência e fomos ver todos os direitos que a gente tinha. Mas é bem complicado porque no mundo existem dois lados, o do bem e o do mal, certo? Então, a gente tem que ter muito cuidado com as amizades, com as pessoas, porque em tudo existe a maldade.

O Jefferson foi vítima de um crime que choca, principalmente, pelos detalhes cruéis como foi executado. A senhora acredita que, além do interesse financeiro, havia também alguma outra motivação?

Eu penso que foi totalmente financeiro. Ele queria se passar pelo Jefferson porque o Jefferson é um moço bonito, inteligente, culto, de família, já tinha a sua casa, o seu carro, o seu trabalho, o que ele precisava pra viver bem. Se ele não fosse ator, ele podia ser jornalista, como ele sempre foi em Florianópolis. Ele escrevia pra várias revistas, trabalhou como gerente de empresa, de lojas. O Jeff fala outras línguas, é um moço culto. Mas ele teve esse sonho e caiu nas mãos de pessoas cruéis. Mas eu penso que foi só o financeiro porque o Jefferson tinha o trabalho dele, tinha outros meios de ganhar dinheiro. Então, eles viram que o Jefferson era uma presa fácil. Além de ter o sonho, ele é um moço de bem. Eu penso que não era nada de amizade, de namoro, não. Isso não. O Jefferson sempre falou: ‘Mãe, eu tô focado no meu trabalho, não quero saber’. Uma vez ele teve um relacionamento que não deu certo. Então, o pensamento dele era trabalho: (Dizia) ‘eu quero ser ator dessa novela, na Globo’, que era o sonho dele. E, infelizmente, encontrou a pessoa errada pra direcionar e informar sobre isso.

Após o crime, Bruno se passou pelo Jefferson, assumindo sua casa, suas redes sociais, sua identidade. Como a senhora interpreta esse comportamento? Acredita que, mais do que seus bens, Bruno desejava também ter a vida de Jeff?

O Bruno ficou com tudo porque o Jeff morreu. Ele ficou com a chave da casa, com tudo o que tinha dentro da casa, com a chave do carro, os cartões de débito e de crédito. Até que morreu aquele cachorrinho na Avenida Brasil, que era do Jefferson. A partir daí, a doutora Patrícia, de Brasília, ligou perguntando onde é que estava o Jefferson. Eu disse que ele tinha ido fazer um trabalho em São Paulo, porque estava tudo escrito: ‘Mãe, eu vou pra São Paulo porque tem uma uma amiga minha que tem uma empresa de marketing e eu vou trabalhar lá’. Questionei sobre a mudança e ele disse: “Não, mas eu mudei, eu vou fazer outro trabalho. Depois, vou vender a casa, o carro, e vou morar em São Paulo’. Quer dizer, toda a mentirada escrita pela pessoa (o Bruno). Então, quando morreu o cachorro foi visto que a história era bem outra. Fizemos o boletim de ocorrência aqui na minha cidade e meu filho mais novo foi para o Rio. Assim, acendeu o alerta.

A senhora acredita na participação de mais pessoas, além dos dois principais suspeitos (Jeander e Bruno)? Existe alguma outra pessoa de quem Jeff falava e que possa ter algum envolvimento com o crime?

Mataram ele, não sei quantos porque agora aparece ele, mais o Jeander e dizem que tem mais não sei quem. Então, nós queremos saber o nome de todos. Quem foram os assassinos. Estamos fazendo até hoje a busca dos assassinos, ou do assassino, de quem matou meu filho dessa forma tão trágica, tão cruel, que eu me pergunto o por quê. Que satisfação a pessoa tinha de matar com tanta crueldade? Que tanto ódio? Não era amigo? Onde é que está a pessoa que se fez passar por amigo? Uma mente doentia.

Penso que a polícia continua investigando porque já tem um preso e outro que está na mira de ser preso. Como eles falam, tem outras pessoas. Então, vamos procurar quem são essas pessoas. Inclusive, quem é esse Felipe, quem é Marcelo, quem é Vinicius, quem são? Ou é um só? Mais um trabalho de investigação e de tanta mentira que estão deixando a polícia com tanto trabalho e sabendo já quem é. É isso o que está acontecendo. A polícia está trabalhando, se dedicando, mas é muita interferência de outras pessoas que também ajudam os bandidos.

Esta não é a sua primeira grande perda. Seu filho Anderson, irmão mais velho de Jefferson, também faleceu prematuramente, num acidente de carro. Como a senhora está encontrando forças para lidar, novamente, com essa dor tão terrível?

Perdi meu filho mais velho, o Anderson, de acidente de carro, quando tinha 17 anos. Eu tenho uma dor, o meu coração sangra. Eu nunca me recuperei da morte daquele filho lindo também, estudioso, uma pessoa do bem. E, agora, essa do Jefferson. Gente, vocês mães sabem o que eu estou passando. Nossa senhora que me segura no colo porque é muito triste tu criar um filho com tanto amor e depois, pronto pra trabalhar, alguém encontra o teu filho com tanta inocência, com tanta pureza, em busca dos sonhos e é assassinado dessa forma tão trágica. E agora o que está acontecendo? Eu preciso que vocês ajudem a polícia, ajudem a Justiça a prender esses bandidos.

Qual a sensação de saber que o suspeito de ser o mentor do assassinato de Jeff permanece foragido?

É muita dor saber que quem matou o teu filho está foragido, solto. Por quê? O que é isso? É muito descaso com uma mãe, sofredora. Mães do Brasil, me ajudem. Jornalistas, ajudem a polícia. A polícia está trabalhando. Mas, como eu falo, tem o advogado do bem e tem o outro lado. Temos que ver e ajudar para que isso seja feito com Justiça. Que eu sei que a polícia quer fazer. Que não fique impune esse crime tão bárbaro, tão doído pra uma mãe, pra uma sociedade da minha cidade, um catarinense que sofre. A mãe é a que mais sofre, a família toda. É um catarinense que se foi nas mãos de um assassino. Eu peço, gente: vamos nos unir para que a justiça seja feita, que a justiça tenha ajuda pra poder fazer o seu trabalho. Eu confio na providência divina, na justiça divina e na dos homens. Me ajudem, mães do Brasil, me ajudem, jovens. Porque não é fácil tu perder o teu filho e saber que o assassino ou os assassinos, estão soltos, foragidos.

O Bruno deu entrevista ao Roberto Cabrini. Como foi pra senhora ouvir o assassino do seu filho sendo entrevistado na TV, sendo que ele está foragido?

O assassino sendo entrevistado. E por que não estava sendo preso naquele instante? Não existe uma tecnologia que a pessoa sabe de onde o celular está ligando? Ou não foram usadas essas informações? O assassino está, assim, de peito aberto, falando na televisão como um artista. E o meu filho, lá, dentro de um baú, morto. Eu achei muito triste, temos que tomar cuidado com isso porque é uma mãe que está sofrendo. Eu acho que não pode dar chance. Eu acho que ali, naquele momento em que ele estava sendo entrevistado, poderia ser usada toda a tecnologia pra prender este assassino. Pergunta pra todas as pessoas que assistiram se alguém concordou com aquilo, se alguém aplaudiu. Gente, é muito triste. É complicado pra uma mãe, pra uma família que está sofrendo. O que aconteceu não foi um filmezinho de terror, um filme bárbaro, um filme macabro. Não! Foi uma verdade, uma realidade. Tudo o que ele fez foi de verdade e ele ainda ter o direito de ir para a televisão dizer que não matou. Não, ele não ia dizer que matou. Respeito! Por isso peço socorro pra ajudar a polícia a prender este assassino. Vamos nos juntar, Brasil!

Que conselho a senhora, como mãe, dá a outras mães que tem filhos com o mesmo sonho do Jeff?

Todos têm sonhos. Nós, mães, temos sempre que conversar com eles (os filhos), pedir a Deus a proteção divina, porque os sonhos são de cada um, a mãe não pode interferir. O Jefferson mesmo poderia ter sido um advogado, porque a primeira faculdade dele foi Direito; ele falava que ia ser diplomata. Depois, mudou. Sonho é de cada um. A gente tem que pedir proteção divina e conversar, dar sua opinião. Mas, normalmente, os filhos buscam seus sonhos, embora as mães ajudem, queiram direcionar. Muitas conseguem, mas outros já dizem que o sonho é maior que tudo na vida. Então, a gente orienta, ajuda da melhor forma possível. Mas os amigos são as pessoas que entram na vida de nossos filhos, independentemente, às vezes, dos conhecimentos nossos. Principalmente, os que moram longe. Então, eles ficam muito vulneráveis a essas amizades, porque existem falsos amigos, como esse que surgiu na vida do meu filho. Foi uma fatalidade muito grande. Conselhos, eu dei. Mas, infelizmente, tem pessoas que aparecem de cordeiro e são lobos. Eu nunca esperei que fosse chegar um assassino cruel na vida do meu filho. Muito triste!

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