Acre fica mais pobre com a morte do poeta Mauro Modesto, dizem escritores e amigos

Escritor publicou 12 livros e era um autêntico militante do movimento cultural acreano

O velório do escritor Mauro D’Avila Modesto, que morreu na madrugada desta quinta-feira (13) de infarto, será na Capela São Francisco, na rua Isaura Parente, bairro do Bosque. Amigos, familiares e admiradores do poeta nascido em Sena Madureira, interior do Acre, começam a chegar para o último adeus ao intelectual que um dia se definiu como “soldado da cultura acreana”. O sepultamento será nesta sexta-feira (14), às 10h, no cemitério São João Batista.

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Mauro Modesto. Foto: Reprodução

Entre os muitos amigos e seguidores do escritor está, por exemplo, a jornalista Silvania Pinheiro, sua conterrânea de Sena Madureira. Emocionada, assim que soube da morte do escritor, a jornalista manifestou-se em vídeo. Disse que, mais que amiga, havia sido intelectualmente adotada pelo escritor. Lembrou que Modesto, por onde passava, fazia questão de registrar e descrever paisagens e lugares em mensagens e cartões que enviava para ela.

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Silvania Pinheiro disse também que o escritor a ajudaria no lançamento de seu livro e que havia programado uma viagem ao lado dele e de sua esposa, a também escritora Edir Marques, para o mês de agosto, no Rio de Janeiro.

O governador Gladson Cameli emitiu nota de pesar, em nome do Governo do Estado, a quem qualificou de “escritor, jornalista e ativista cultural”. “Membro fundador da Academia Acreana de Letras, ex-presidente da Fundação Elias Mansour, o acreano de Sena Madureira Mauro Modesto deixa um legado de honra e dedicação às letras e à cultura acreana”, diz a nota assinada pelo governador.

A secretária de Estado de Comunicação do Governo do estado, jornalista Nayara Lessa, também lamentou a morte do escritor. “O Acre fica mais pobre culturalmente sem o senhor Mauro Modesto. Ele sempre foi um incentivador e produtor cultural no Acre”, disse.

Enilson Amorim, cartunista e escritor, também membro da Academia Acreana de Letras (ALL), disse que, além de mais pobre culturalmente, com a morte de Mauro Modesto, a literatura perde um dos seus grandes incentivadores. “O movimento cultural e literário vai se ressentir por muitos anos com esta perda”, disse.

Outro escritor e membro da AAL, Moisés Diniz, ex-deputado e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Governo do Estado, lembrou da participação do escritor, há uma semana, durante uma homenagem prestada à jornalista Silvania Pinheiro. “Naquela solenidade, já em cadeira de rodas, ele disse que a Covid paralisou o Acre, mas não conseguiu parar os poetas”, lembrou. “O Mauro será sempre lembrado por sua paixão pela cultura e pela literatura. Nós, que vivemos da arte de escrever, demos muito a ele”, disse Diniz.

Em abril de 2021, exatos 31 anos depois de sua criação, a Fundação Municipal de Cultura e Desporto, que se tornaria a “Fundação de Cultura Garibaldi Brasil”, órgão da Prefeitura de Rio Branco, homenageou o escritor, seu fundador.
O nome atual da Fundação é uma homenagem a outro grande vulto da cultura local, o jornalista e promotor de Justiça Garibaldi Carneiro Brasil, paraense radicado no Acre e que faleceu em Rio Branco em 1986, de quem Mauro Modesto era amigo e seguidor.

Mauro foi o primeiro diretor-presidente daquela que seria a casa de cultura do município de Rio Branco. Nascido em três de fevereiro de 1943, em Sena Madureira, no Acre, Mauro Modesto vem a ser o décimo primeiro dos catorze filhos de Iracema d’Ávila Modesto, amazonense, e José Modesto da Costa, migrante nordestino.

Mauro Modesto era ‘imortal’ da Academia Acreana de Letras. Foto: Reprodução

O próprio Mauro contava que, aos 15 anos de idade, percebeu que Sena Madureira, com suas ruas de terra batida e dependendo, como de resto todo o Acre, do contracheque dos servidores públicos para movimentar a incipiente economia local, era de fato muito pequena para o tamanho de seus sonhos. Sonhos de poeta em fase de descobrimento pessoal.

Foi estudar no Rio de Janeiro (e, posteriormente, em Minas Gerais), ocasião em que vivenciou novos horizontes e, de imediato, juntou-se aos poetas, formando aí, as rodas poéticas na cidade que fervilhava política e culturalmente. Aos 16 anos, começou a escrever seus primeiros versos.

Era formado pela Universidade Federal do Acre (Ufac), em Ciências Econômicas, profissão que nunca exerceu. Preferiu ser radialista, jornalista e poeta. Como jornalista, por 16 anos exerceu a profissão na Assessoria de Comunicação Social do Gabinete do Governador do Estado. “É por meio da poesia que exprimo minhas emoções, com narrações sobre o prazer, o deleite”, disse o poeta em uma de suas muitas entrevistas a este ContilNet.

Em sua poesia, Mauro Modesto falava sempre de amor e abandono, a matéria-prima da saudade. Mauro teve seu talento reconhecido inclusive também por outros talentosos grandiosos, como é o caso do filósofo, jornalista e escritor Antonio Stélio, acreano atualmente vivendo em Natal, no Rio Grande do Norte. Sobre Mauro, ele escreveu: “Mauro Modesto, depois que fixou residência, definitivamente, no Acre, como filho pródigo, organizou concursos de poesias, escreveu colunas em jornais, falou de poesia em tempos difíceis e se tornou um soldado da literatura acreana”.

Com o mesmo reconhecimento, a doutora e comendadora Nilza Pinheiro de Athayde Lieh, presidente da Academia Brasileira de Meio Ambiente, prefaciando Modesto, em 2010, ressaltou que “a cultura acreana tem na figura do poeta Mauro Modesto um dos seus maiores incentivadores, contribuindo, de maneira decisiva, na divulgação do Estado e da poesia acreana pelo Brasil afora, defendendo e honrando as causas da Amazônia, da educação, os valores do Brasil e o patrimônio histórico e cultural do Acre”.

Por seu ativismo cultural, Mauro Modesto foi considerado o Príncipe dos Poetas Acreanos, título concedido pela Casa do Poeta Acreano, cujo presidente, à época, era o poeta, professor e jornalista Elzo Rodrigues da Silva, de saudosa memória.
Mauro Modesto lançou doze livros: “Desencontro”, em 1983, lançado em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Branco e Sena Madureira. “Por quê?” veio em 1985, lançado no Rio de Janeiro, Rio Branco e Sena Madureira. Em seguida, produziu “Toda Saudade Tem Um Nome”, de 1990, lançado no Rio de Janeiro, Rio Branco, Sena Madureira, Ibiraçu e Vitória – ES.

Em 1998, veio “Respingo de Paixão e de Saudade”, lançado agora também em Recife e Olinda – PE. Em 2000, nasce “Pedaços de Amor e de Saudade”, lançado agora também na cidade de Mariana-MG. “Neblina de Saudade” surge em 2004. “Do outro lado do monte” surge em 2010. “Saudades Ocultas na Linha do Horizonte” surge em 201” e “Saudades tuas, saudades minhas é de 2013.

Mauro Modesto é escritor e poeta. Foto: Cedida

“‘Confidências – poesia a quatro mãos” foi lançado em 2015 em parceria com sua esposa, Edir Figueira Marques, lançado nas cidades do Rio de Janeiro, Rio Branco, Brasiléia e Sena Madureira. “Uma vida… infinitas saudades” é de 2017.

Além de escrever e publicar suas obras, Mauro Modesto foi conferencista e memorialista, sempre acreditando que é a poesia a arte que mais encanta. “É uma linguagem imprescindível entre o indivíduo e a vida, contribuindo para o conhecimento de si e o respeito pelo outro. É a emoção que transcende o tempo e o espaço”, diz sobre a poesia.

Como criador da Fundação Municipal de Cultura e Desporto – atual Fundação Garibaldi Brasil, durante a gestão do prefeito Jorge Kalume, realizou. concursos estaduais e nacionais de poesia, sediou em Rio Branco o I Seminário da Poesia Brasileira, transformando a cidade, por uma semana, em “a capital da poesia brasileira”, com a presença de poetas, escritores e ativistas culturais do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia, Goiás, Amazonas e Rondônia, dentre eles o poeta Thiago de Melo. Também realizou nas escolas da capital e interior, conferências sobre Castro Alves e Rui Barbosa; Manoel Bandeira, pela acadêmica Robélia Fernandes de Souza; e J. G. de Araújo Jorge, pelo jornalista e acadêmico Elzo Rodrigues da Silva; – todos membros da Academia Acreana de Letras.

Mauro Modesto também fundou as Academias de Letras e Artes nos municípios de Sena Madureira, Xapuri, Plácido de Castro, Brasiléia, Assis Brasil, Senador Guiomard e Distrito de Campinas. Em Rio Branco, a Academia de Jornalistas e de Letras do Estado do Acre, o Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais, a Federação das Academias de Letras e Artes do Estado do Acre, a Academia dos Poetas Acreanos e a Sub-chancelaria do Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais de Brasiléia (Brasil, Bolívia e Peru).

Mauro Modesto era natural de Sena Madureira. Foto: Reprodução

Em 1987, participou de um concurso nacional de poesia, na cidade do Rio de Janeiro, concorrendo com mais de 20 mil poetas brasileiros e foi agraciado com a medalha de ouro Raimundo Correia de Poesia, editado pela Shogun Editora e Artes. Foi detentor na cidade do Rio de Janeiro das medalhas “Olavo Bilac”, do Mérito Acadêmico “Austregésilo de Athayde”, do Mérito Cultural Ambiental “Francisco da Silva Nobre”, do Mérito “Juscelino Kubitscheck” e “Jorge Amado”, dentre outras. Foi condecorado com as medalhas “Museu Maria da Fontinha”, Elos Clube de Leiria e medalha do Centenário de “Miguel Torga”, de Portugal. Recebeu, ainda, medalha de Embaixador da “Divine Académie Française des Arts, Lettres e Culture”, da França.

Mauro Modesto ocupava a Cadeira nº 13, da Academia Acreana de Letras, cujo Patrono é o jornalista Garibaldi Brasil. Foi Presidente desta Academia por oito anos. Era membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Acre. No Brasil, era membro da Federação das Academias de Letras do Brasil, da União Brasileira de Escritores, da Academia Brasileira do Meio Ambiente (da qual é presidente de honra), da Academia Pan-americana de Letras e Artes, do Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais, do Cenáculo Brasileiro de Letras e Artes, da Academia de Letras e Artes de Paranapuã, da Academia de Letras do Estado do Rio de Janeiro, estas com sede na cidade do Rio de Janeiro; da Federação Baiana de Escritores e Academia Castro Alves, na Bahia; da Academia Interamericana de Literatura e Jurisprudência, de Anápolis, e Academia Goianiense de Letras, de Goiás; da Academia Internacional de Letras “Três Fronteiras” (Brasil, Uruguai e Argentina); da Internacional de Ciências Humanísticas, do Instituto Histórico e Geográfico e da Academia de Letras, em Uruguaiana, além de inúmeras outras entidades culturais espalhadas no Brasil.

Foi ganhador do troféu ATITUDE, na esfera da Educação, concedido pelo Ministério Público do Acre, em 2018, em reconhecimento pelo trabalho realizado, voluntariamente, nas escolas por 48 anos, com oficinas de poesia. Recebeu também, no mesmo ano, no Dia da Poesia, moção de louvor da Câmara Municipal de Rio Branco, por indicação do vereador Mamed Dankar.

O corpo do escritor foi encontrado por familiares em vida nesta manhã. Ele morreu de madrugada, de infarto, no apartamento em que vivia, no bairro Morada do Sol.

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