Era dezembro de 1995. Sonia Rocha embarcava para Viçosa, em Minas Gerais, para cursar o mestrado em Genética, deixando em Rio Branco a sua família, seus amigos e toda uma história de luta e dedicação aos estudos. Ela não imaginava, mas, a partir daquela data, nunca mais voltaria a residir no Acre, lugar onde nasceu e onde deu à luz sua única filha.
Nascida no município de Tarauacá, localizado há mais de 400 quilômetros da capital, Sonia foi sempre estudante de escola pública. No seu histórico escolar de ensino básico, consta a Escola Serafim da Silva Salgado, na região da baixada da Sobral, e o Instituto de Educação Lourenço Filho, onde cursou os ensinos fundamental e médio, respectivamente. No ensino superior, formou-se em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Acre, concluindo o curso antecipadamente para garantir sua vaga no mestrado da Universidade Federal de Viçosa.
“Eu estava no final do 7º período quando recebi a notícia da minha seleção e confirmação da bolsa do CNPq, e, com sorte, eu já tinha crédito suficiente para me formar. O único negativo foi ter que me formar sem a minha turma, porque eu precisava do diploma de formatura para me matricular no mestrado”, explicou Sonia.
Deixar o Acre definitivamente não era um objetivo que estava nos seus planos. Pelo contrário, a expectativa de poder retornar assim que concluísse o curso foi uma das coisas que lhe fizeram tomar mais facilmente a decisão de partir. “Minha família completa estava em Rio Branco e eu queria voltar para perto deles”, conta.
Porém, as oportunidades não coincidiram com os planos da acreana. Ainda durante o mestrado, decidiu que deveria se especializar um pouco mais antes de retornar para sua terra natal. “Meus orientadores de mestrado me aconselharam a continuar com o doutorado e voltar para Rio Branco já Doutora. O conselho fez sentido e minha família concordou”, relembra ela.
Assim, no último semestre do mestrado, Sonia fez a prova de seleção para doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde foi aprovada em primeiro lugar e garantiu a única bolsa CAPES disponível para o semestre.
“Uma vez mais, como eu não tinha nada a perder, eu decidi tentar a seleção de doutorado na Universid de Granada na Espanha (UGr), e acabei sendo aprovada também. No final das contas, eu comecei o Doutorado na UNICAMP e o concluí em Granada”.
Apesar de conhecer outros lugares do país e do mundo, a vontade de retornar à sua terra natal não havia morrido. Em 2002, com a conclusão do doutorado, Sonia tentou retornar ao Brasil, mas o cenário não lhe era favorável para conseguir emprego. Foi quando surgiu mais uma oportunidade, desta vez para cursar um pós-doutorado, nos Estados Unidos.
“Morar nos Estados Unidos aconteceu quase por acaso. Minha intenção era ficar por um ano e voltar para o Brasil, mas o grupo de pesquisa na Universidade de Creighton, onde vim fazer o pós-doutorado, me convidou a continuar no programa por mais dois anos, e eu aceitei”, relata Sonia. “No final do pós-doutorado, eu passei em primeiro lugar na seleção para professor da própria Universidade de Creighton e estou aqui até hoje”.
Sonia relata que nunca foi de fazer grandes planos ou pensar tanto aonde ir e acredita que por isso mesmo nunca teve medo de se arriscar e reconhecer as oportunidades.
“Por mais que eu ame o meu estado, eu sei que jamais poderia ter alcançado lá o mesmo nível profissional que eu tenho hoje. Infelizmente, a escassez de recursos e oportunidades que haviam 28 anos atrás quando eu fui embora, ainda existem”.
Atualmente, Sonia Rocha é professora catedrática na área de Neurogenética e Ciências Biomédicas, servindo também como pró-reitora de pesquisa e liderando um grupo de pesquisadores que inclui professores, estudantes de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado. Recebeu muitos prêmios de pesquisa, incluindo vários prêmios do Instituto Nacional de Saúde Americano (NIH), prêmios e moções estaduais, de empresas privadas e ONGs. Além disso, é autora de várias patentes e serve como consultora para várias organizações americanas.
Perguntada sobre qual conselho ela dá para outro acreano que venha de realidade semelhante à sua, ela diz não se achar boa em dar conselhos, mas decide recomendar a perseverança.
“Talvez o melhor conselho que eu possa dar é que seja perseverante. Se você tem um sonho, não desista. Mas também não tema as dificuldades, pelo contrário, aprenda com elas e use os aprendizados para melhorar a si mesmo”, ponderou. “É fácil se queixar quando as coisas são difíceis e buscar um atalho, o famoso jeitinho brasileiro, mas tudo que vem fácil vai fácil. As coisas que você demora a conseguir são as que duram”, finalizou.
SOBRE O AUTOR – Jackson Viana é Escritor, Poeta, autor de três livros, presidente-fundador da Academia Juvenil Acreana de Letras (AJAL), Embaixador da Região Norte na Brazil Conference at Harvard & MIT e Embaixador Mapa Educação 2023.