Eleito o melhor jogador do CBLOL Academy, o campeonato de base do League of Legends brasileiro, Diogenes “Dioge” estava nervoso no discurso da vitória no Prêmio CBLOL 2023. Quando questionado se estava pronto para o CBLOL, Dioge respondeu sucintamente que sim, em um misto de nervosismo, objetividade e assertividade. O jogador, de 21 anos, quer estar no principal torneio de LoL do país, mas sustenta não ter pressa para isso.
— Eu não tenho pressa. O que for para acontecer, vai acontecer. Não tenho pressa de ‘meu Deus, eu preciso jogar o CBLOL’. No tempo do CBLOL e das coisas, vai acontecer. Eu escolhi esse caminho e vou até o fim — cravou Dioge em entrevista exclusiva ao ge, na qual contou a história de vida e a trajetória dele no LoL.
É que, para Dioge, não ser bem-sucedido não é uma opção. Ele largou a escola no 6º ano do Ensino Fundamental para só jogar LoL.
— Para mim, não é tortura nenhuma seguir até o fim. Eu gosto muito de jogar este jogo. Mas, se um dia começar odiar, eu vou ter que continuar seguindo até o fim.
Embora não tenha pressa, Dioge sonha em disputar o CBLOL, onde poderá evoluir mais.
— Eu sinto que sou uma pessoa que aprende mais jogando do que estudando o jogo. Não desmerecendo o Academy, mas não tem mais muita coisa para aprender. Com certeza vou aprender algo mais, mas eu tenho mais a perder do que a ganhar. Eu queria jogar o CBLOL não para ser f* no CBLOL, mas sim para aprender mais. Talvez eu suba para o CBLOL e me saia bem ou mal, mas com certeza eu vou ficar bom lá.
Dioge faz parte da KaBuM Academy desde 2021, depois de ter sido selecionado em testes para o time de base.
Games, da infância à profissão
Nascido em São Paulo, com os pais vindos de Salvador (BA), Dioge tem três irmãos mais velhos e começou a se interessar por games desde criança. Já desde a infância Dioge jogava diversos jogos com os irmãos.
— Por sermos em quatro, era muita competição, era o dia todo jogando. Nós gostávamos dos games que dava para um amassar o outro. Tudo que desse para ir um contra o outro, nós estávamos jogando — relembrou o atleta.
Dioge entrou no LoL por indicação de um vizinho há dez anos. Ele chegou ao nível Ouro e conheceu o cenário competitivo em 2015, quando passou a mirar a carreira de jogador profissional. Nenhum outro game, seja de computador ou console, havia captado tanto a atenção e a paixão de Dioge.
— Era um jogo bem diferente de todos os outros que eu joguei e eu comecei a jogar bastante. Em 2015 eu vi a final do Mundial e achei a energia muito massa. Assim que vi, falei ‘quero ser pro-player’ e fui atrás — contou.
— Eu comecei a jogar o máximo de games que eu conseguia no dia, todos os dias. Eu acordava e jogava até a hora de dormir, todo dia fazendo a mesma coisa.
Dioge pegou o nível Desafiante, o mais alto do LoL, em 2018, ano em que se tornou torcedor da KaBuM, principalmente por conta do atirador Alexandre “TitaN” e do meio Matheus “Dynquedo”. Naquela temporada, a KaBuM venceu as duas edições do CBLOL.
Dividido entre o CS e o LoL
Depois de pegar o Desafiante, Dioge se afastou do LoL e começou a jogar Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO). Ele logo chegou a Global, o nível mais alto do First-Person Shooter (FPS).
— O LoL, sinceramente, era um jogo completamente diferente. Um jogo em que tem que pensar e que eu nunca tinha jogado. No CS, tem uma estratégia, mas o ponto mesmo é só atirar, sabe? Vai mirar no cara, vai atirar e vai matar. No LoL tem toda a estratégia, tem todo objetivo, toda uma diferença — explicou Dioge, relembrando que precisou pensar bem sobre em qual modalidade seguir.
— Eu fiquei bem na dúvida se iria para o LoL ou para o CS. Senti que tinha futuro nos dois, mas que, no CS, o cenário era bem mais fechado. Era muito difícil entrar. Tinha que ser realmente muito diferente para conseguir algo, enquanto que, no LoL, não.
Ele não chegou a competir no CS:GO, nem mesmo em torneios amadores, e iniciou a trajetória no LoL com uma equipe de amigos em classificatórios para o Circuito Desafiante, o antigo campeonato da 2ª divisão do LoL brasileiro. Foi um treinador daquele time que o recomendou para o teste na KaBuM, em uma época em que estava desanimado e se afastando do LoL.
— A partir dali eu voltei. Meu sonho começou ali. Meu sonho não era ser pro-player, meu sonho era ser um jogador bom. Ali estava começando meu sonho, e eu comecei a gostar de LoL de novo.
De torcedor a contratado da KaBuM
Era o início do sonho da carreira profissional, justamente pela equipe da qual era torcedor desde 2018.
— Eu fiquei bem nervoso. Eu joguei o ‘tryout’ [processo seletivo] como se fosse a final da minha vida.
— Foi no momento que eu passei no ‘tryout’ que eu vi que não tinha mais volta, ainda mais por tudo que eu fiz na vida, de largar a escola. Agora tem que seguir até o fim.
Ele praticamente não jogou e treinou com a KaBuM Academy em 2021, começou a ter mais oportunidades em 2022 e só se consolidou mesmo neste ano. O time de base dos Ninjas ficou na 4ª posição do 1º Split e conquistou o título no 2º Split.
O tempo em que, depois de contratado, ficou sem competir não abalou os planos de Dioge para a carreira.
— Eu sabia que, por ter o nome da KaBuM, mesmo não jogando, eu já tinha alguns olhos para mim. Não abalou. Eu sabia que, quando tivesse uma chance, iria me sair bem.
E a recompensa veio com ótimas atuações, principalmente no 2º Split do CBLOL Academy.
— Sinceramente, o que ajudou foi ter essa seleção. Meu time é cheio de jogadores bons e experientes. É muito fácil jogar com eles.
Temporada de destaque
Dioge contou que, no início da temporada, considerava ser o pior jogador do elenco, que conta com o topo Cleber “SuperCleber”, o caçador Samuel “Samkz”, o atirador Gabriel “scuro” e o suporte Guilherme “Guigs”.
— Ser indicado [ao Prêmio CBLOL], não que seja uma comparação, talvez [signifique que] eu não sou tão ruim quanto eu pensava. Em questão de evolução, se eu não sou o que mais evoluiu, estou entre eles.
— Ganhar como melhor jogador do Academy é aumentar a minha confiança em mim. Ganhar um prêmio entre tanto jogador bom, é porque eu fiz algo direito. É muito bom para mim.
Na entrevista ao ge, realizada antes da cerimônia de premiação, Dioge contou que não sabia o que falaria no discurso em caso de vitória. Iria de improviso. Mas com muito medo.
— Eu estou nervoso porque, desde o começo do ano, eu falava que, se eu ganhasse, iria ter muito medo de fazer discurso lá em cima para todo mundo.
O nervosismo se confirmou diante das câmeras na hora do discurso, mas a persistência de Dioge também é nítida, em uma trajetória que começou como torcedor e terminou como jogador profissional com um futuro pela frente.