Uma pesquisa conduzida pela Universidade Federal do Acre (Ufac), com a Universidade Estadual do Ceará (UECE), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e o centro de pesquisas americano Woodwell Climate, sugere que o Acre pode ser uma das regiões brasileiras mais impactadas por eventos climáticos extremos. Segundo a pesquisa, o ano de 2010 pode ter representado um ponto de virada para eventos climáticos extremos no Acre.
O estudo foi publicado na revista “Perspectives in Ecology and Conservation” e foi feito a partir de uma análise de estudos de 1987 a 2023, além de decretos estaduais e municipais relacionados a alertas climáticos. Os pesquisadores identificaram 254 eventos climáticos extremos nos últimos 36 anos, com uma tendência crescente na frequência e intensidade desde 2010.
Segundo o estudo, até 2004, os registros indicavam a ocorrência de, em média, um evento extremo por ano nas cidades acreanas. No entanto, após 2010, dois ou mais eventos têm sido registrados com frequência no mesmo ano em um mesmo município, registrando praticamente o dobro de eventos por ano. “Esse é o padrão que está se mostrando para o futuro; o ambiente não está conseguindo se regenerar depois de cada evento e, a cada ano, está mais frágil”, explica a autora.
Durante o período analisado, 60% das ocorrências enfrentadas pelos habitantes do Acre foram incêndios florestais ou queimadas em áreas desmatadas, enquanto 33% foram inundações e 6% crises hídricas, conforme destaca um artigo. O estudo enfatiza que as pessoas mais afetadas geralmente estão em áreas de risco, com menor poder aquisitivo e infraestrutura limitada.
As perdas econômicas em larga escala foram notáveis, com o Acre liderando todos os estados brasileiros em custo financeiro por evento entre 2000 e 2015, estimado em mais de 15 milhões de reais a cada crise, segundo dados do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres do Brasil.
A pesquisa identificou padrões nas áreas mais impactadas, destacando a capital Rio Branco e o município de Cruzeiro do Sul como os principais locais afetados, mesmo que regiões menos arborizadas enfrentem mais eventos climáticos.
Eventos climáticos em 2023
Em meados de março de 2023, o Rio Acre registrou uma elevação no nível das águas na capital que deixou mais de 13 mil pessoas atingidas pela enchente. O rio, que chegou próximo da cota histórica de 18,40 metros, atingiu diversos bairros e centenas de famílias perderam muitos móveis, e algumas delas chegaram a perder a própria casa em decorrência da enchente.
Após o período de alto nível das águas, o Rio Acre voltou a secar no período de estiagem, que compreende os meses de julho a dezembro. Em 2023, o Acre e outros estados da Amazônia passam por uma seca severa e, por isso, o Governo Federal reconheceu situação de emergência decretada pelo governo do Acre, em decorrência da seca e possibilidade de desabastecimento de água para a população. Além da seca, o El Niño tem intensificado o calor extremo registrado no Acre.
Em 2023, apesar da redução no número de focos de queimadas em alguns meses, se comparado ao mesmo período do ano anterior, o Acre ainda registrou altos números de focos de incêndios florestais.
Nos 15 primeiros dias de novembro de 2022, o estado registrou 896 focos de incêndio. Sena Madureira teve 155 focos, já Xapuri registrou 129, seguido de Brasiléia, com 112 focos de incêndio.
Em 2023, até o dia 14 de novembro foram notificados 105 focos de queimadas. Sena Madureira, ocupando o primeiro lugar, registrou 21 focos, seguida de Brasiléia, com 17, e de Assis Brasil, com 11 focos.
A redução na primeira quinzena de novembro também se apresenta quando comparada ao mesmo período, em outubro deste ano, quando foram registrados 1134 focos de incêndios. A queda chega a mais de 90%.