“Eu esperava fazer mais uns aninhos de cursinho”, relata Thainá Araújo Barros, de 18 anos, estudante do Ifac (Instituto Federal do Acre), que foi aprovada nos cursos de Direito e Medicina na Universidade Federal do Acre (Ufac) nas últimas duas edições do Sisu. Para o ContilNet, ela conta um pouco sobre sua rotina de estudos, motivações e expectativas depois das duas conquistas.
Explicando, Thainá sempre buscou cursar a área da saúde, porém, no semestre passado, ela estava no Direito na Ufac, por ter entrado no segundo semestre pelo Sistema de Seleção Unificado (Sisu), porém, na edição que revelou os aprovados no último dia 16, a estudante de Direito se tornou uma caloura de Medicina.
“Eu fiquei muito feliz. Na verdade, eu esperava fazer mais uns aninhos de cursinho, principalmente, porque ele é um dos cursos mais concorridos do estado. Estou em êxtase e sem acreditar, tanto que minha ficha caiu só quando as aulas começaram”, diz Thainá.
Estudante durante a pandemia, a aprovada estudava num cursinho feito pelos próprios estudantes de medicina da Ufac, porém, quando as aulas presenciais voltaram, ela teve que interromper os estudos na instituição e assinar uma plataforma online de pré-Enem.
“Eu estudava nos intervalos das aulas e à noite para redação ou para resolução dos exercícios”. A garota focava nos blocos temáticos do Enem que tinham um peso para Medicina – no caso, ciências da natureza – e focava em otimizar o seu tempo, pois, apesar de serem quase cinco horas de prova, “não sobra tempo, são 90 questões e mais uma redação”, como ela argumenta.
Mas, afinal, por que medicina? Thaina conta que sempre se identificou com a área, desde criança – quando ela mesmo precisava, por conta de seus problemas de saúde, além dos cuidados com seus avós, com quem mora até hoje no Taquari.
“Então, frequentava muito hospital e também moro com meus avós que já estão debilitados. Sempre gostei, nunca vi o hospital como algo assustador, que é normal para uma criança. Eu acho bem interessante essa forma como você pode cuidar das pessoas. E assim foi nascendo uma vontade, além de saber também que a profissão poderia dar uma atenção econômica para mim e para minha família, porque a gente tem uma origem muito humilde”, disse.
Seus dois avós já tiveram AVC (Acidente Vascular Cerebral) e sua avó já desenvolveu um mioma, ou seja, Thainá, constantemente, enxergava o hospital como um espaço de cura e recepção para seus avós, pensamento que a motivou ainda mais a entrar no curso.
“Eu já tô cursando [Direito na Ufac], então, no começo eu estava muito animada, só que é uma rotina muito cansativa, né? Até costumo falar para meus colegas que você é abdica de si para cuidar de outras pessoas. São muitas horas de estudo. Tem vez que eu chego em casa mal, mal vejo meus avós e eu vou dormir tarde da noite. É muito cansativo, mas também muito gratificante”, a aprovada em medicina reflete sobre sua rotina cansativa.
“Eu acredito na minha história”, diz Thaina quando pensa sobre as aprovações.
A menina diz que muitas pessoas já a tratam como se sua vida tivesse mudado totalmente, mas, ela afirma que ainda continua morando no mesmo bairro, na mesma casa – apesar de ter ciência do seu feito. Afinal, pessoas de periferia, com frequência, não são ligadas, a vitórias no meio acadêmico, ainda muito branco e elitista, além de sempre terem que se esforçar bem mais sempre para atingir determinados objetivos, é o que afirma a estudante.
“Para mim é extremamente gratificante saber disso e saber que a minha história pode motivar outros jovens a seguir nos estudos, a seguir em seus sonhos e não se levar pela situação em que eles estão ou o que eles são determinados pela sociedade. Mas entender que com esforço, com estudos, você consegue, mas que infelizmente você vai ter que se esforçar mais e quebrar muitas barreiras”.