O Dia Internacional dos Museus é uma data dedicada a incentivar a apreciação e a visitação de museus, sejam eles de arte moderna, clássica ou contemporânea. No Brasil, a comemoração ganha uma dimensão especial com a vigésima segunda edição da Semana Nacional de Museus, um evento anual organizado pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) em homenagem ao Dia Internacional dos Museus.
A Semana Nacional de Museus não apenas realça a importância dos museus como centros de preservação e divulgação cultural, mas também fortalece a conexão dessas instituições com a sociedade. Neste sábado (18), o Dia Internacional dos Museus é celebrado pelo mundo em comemoração a estes espaços.
Durante esses dias, o Brasil se transforma em um grande palco cultural. Diversos órgãos, como o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), participam ativamente, promovendo uma vasta gama de atividades que vão desde exposições, palestras, oficinas, até visitas guiadas e eventos interativos.
O ContilNet conversa com a historiadora Vitória Maciel, de Cruzeiro do Sul, e Ferleno Ferreira, coordenador do Museu dos Povos Acreanos, sobre a data e como é essencial o investimento nestes espaços de memória.
Lugares de memória
“Os museus são em essência lugares de memória, tendo esse nome por significar um lugar que determinado grupo social considerou simbólico e importante por transmitir uma identidade e ser um local de preservação e reflexão”, detalha Vitória.
A entrevistada conta o papel dos museus na educação de uma sociedade, servindo de “como pontes entre o passado e presente, servindo para a construção de gerações futuras”. Com o tema “Museus, Educação e Pesquisa”, a Semana Nacional dos Museus, na sua 22ª edição, visa não apenas atrair visitantes, mas também mostrar a relevância dos museus como espaços vivos e dinâmicos, capazes de influenciar positivamente a sociedade.
“O visitante é levado à dimensão relacionada a determinado acontecimento histórico, vivenciado subjetivamente aquela experiência retratada, sendo impactado por ela. Isso forma sujeitos críticos, pensantes e mais sensíveis. Ter esse tipo de lugar de memória é essencial e grandioso dentro de uma comunidade”, reflete Vitória Maciel.
Já Ferleno, fala da importância de lugares como o Museu dos Povos Acreanos para o registro de memória dos povos que construíram as múltiplas identidades acreanas.
“Levar a informação para a população é fundamental para entender como os povos e as culturas se formaram e se misturaram. Desde a chegada dos nordestinos, houve uma fusão com os povos indígenas, seringueiros e japoneses. Além disso, os descendentes de libaneses influenciaram muito a nossa culinária”, comenta o entrevistado.
Ele enumera ações como a revitalização do Memorial dos Autonomistas, a reabertura do Museu da Borracha, além de iniciativas que ainda estão em andamento, como a revitalização do espaço cultural Cordélia Lima e o Memorial José Augusto em Cruzeiro do Sul, além de espaços de memória em Porto Acre e Xapuri.
A principal ação para o futuro é a abertura da segunda parte do Museu dos Povos Acreanos:
“Estamos trabalhando para entregar a segunda fase do museu, incluindo outros espaços”, afirma.
Patrimônio Cultural
Embora no Ibram existam 24 museus cadastrados, segundo os órgãos responsáveis pelos locais no Acre, há no estado, de fato, 21 museus. Alguns, ainda necessitando de atenção no interior do estado, como o Museu de Sena Madureira, que apresenta painéis sobre a história da fundação e uma coleção de objetos culturais do município.
“Um museu é um patrimônio cultural e histórico. Muitas pessoas gostam da experiência de visitação e isso inclusive impacta a questão do desenvolvimento turístico do nosso Estado. Temos uma cultura riquíssima, que possibilita a construção e consolidação de patrimônios culturais e históricos como os museus”, diz a historiadora Vitória Maciel.
Ferleno garante que revitalizações acontecerão nos mais diversos espaços: “tem alguns que têm muitos anos que estão fechados e alguns vão ser revitalizados. Outros, além de revitalizados, vão ganhar novos, novos, novos espaços”.
Nesta semana, o Ibram organiza a “Semana Nacional dos Museus” e o Museu dos Povos Acreanos possui uma programação especial para a data:
17/05 – Sexta-feira
- 14h às 18h – Auditório Florentina Esteves
Minicurso “Patrimônio cultural e educação patrimonial como ferramenta para construção da cidadania” ministrado pelo professor João Paulo Pacheco (Ufac), com certificado
- 17h – Átrio Catraia: Contação de histórias e causos regionais, com o grupo Estrela Altaneira
18/05 – Sábado – Átrio Catraia
- 14h – Átrio Catraia: Oficina de expressão com o grupo Arte de Ser, inspirada nas salas de exposição do MPA
- 16h – Auditório Florentina Esteves: Exibição do documentário Ponte de Memórias, da cineasta Alcinete Damasceno
19/05 – Domingo
- 17:30 – Átrio Catraia: Encerramento da Semana Nacional de Museus com a apresentação da peça Fiandeiro de Tempos, produção do Coletivo Iluminar
Essa é uma oportunidade de sanar um problema que Vitória Maciel cita no estado, uma falta de educação patrimonial adequada. “Essa questão deve ser trabalhada desde cedo, na escola e também em casa”.
“Precisamos de políticas públicas que valorizem a preservação do patrimônio físico e também na capacitação e valorização de profissionais que atuam diretamente no trabalho de manutenção, pesquisa e gestão nos lugares de memória, o que é algo que nosso Estado também precisa fazer”, disserta.
Um museu serve ainda para observar e entender comportamentos passados, as permanências e as nuances desse diálogo da memória pretérita e atual torna o trabalho de um historiador muito interessante e fértil. Para Vitória, a pesquisa também é um ponto alto.
A entrevistada termina a sua fala sintetizando o papel dos museus na construção de uma cultura e história viva:
“Os museus vão além de um prédio estático, é um lugar que guarda toda uma cultura, vivências e permanências de um povo. É um local de transcendência! São lugares essenciais para manter vivo o que fomos e o que somos. É nosso dever refletir sobre isso e promover a sua permanência”.