Acre vira rota de tráfico internacional de tracajás na fronteira com a Bolívia; entenda

Reportagem revela que o destino dos ovos de tracajás é a cidade de Rio Branco, capital do Acre, a 231 quilômetros de Cobija

Uma reportagem especial do Info Amazônia , do jornalista Eduardo Franco Berton, revelou um esquema internacional de tráfico de tracajás e ovos do animal, na amazônia boliviana.

O tracajá é uma tartaruga aquática conhecida na Bolívia como rio peta (Podocnemis unifilis). A espécie está entre as mais caçadas da Amazônia, cuja carne e ovos são altamente cobiçados e considerados uma espécie de “iguaria” na mesa dos moradores de diferentes lugares do departamento de Pando, na Amazônia boliviana, na fronteira com o Acre.

O tracajá é uma espécie de tartaruga aquática da Amazônia/Foto:Eduardo Franco Berton

Cobija, capital de Pando, faz fronteira com municípios acreanos, como Brasiléia e Epitaciolândia.

A tracajá viaja por vários quilômetros para chegar às praias dos rios Tahuamanu, Orthon e Manuripi, onde enterra seus ovos na areia morna, dando assim continuidade ao seu ciclo natural. Mas sua presença não passa despercebida. Com sua chegada, dezenas de pessoas se aventuram pelas águas desses mesmos rios e suas praias para extrair os ovos desse réptil.

Cada um dos ninhos abriga entre 30 e 35 ovos. O preço deles, no mercado ilegal, chega a ser cinco vezes maior que os de galinha.

Ovos de tracajá confiscados por guardas florestais na Reserva Nacional Manuripi. | Sernap Manuripi

“São umas oito a dez casinhas [o lugar]. Onde se faz negócios é na margem do rio Tahuamanu. Todo mundo chega lá”, disse Samuel, um policial durante entrevista ao InfoAmazônia. Ele revela ainda que, quando se trata de compradores brasileiros, a transação é fechada em reais. “Eles pagam R$ 300 e levam sua tracajá.”

Acre na rota do tráfico

Um dos principais municípios bolivianos responsáveis pelo tráfico dos animais é Santa Rosa del Abuná, localizado no departamento de Pando. Ele é porta de entrada de contrabandistas que chegam de Capixaba, no Acre.

Mapa mostra como funciona o tráfico de tracajás na região/Foto: Reprodução

“Eles vêm à noite em automóveis (caminhonetes) e se dirigem para [o município de] Puerto Rico. De lá, já pegam o caminho para [os rios] Manuripi, Orthon e Tahuamanu”, conta o policial ao InfoAmazônia.

Testemunhas revelaram ao InfoAmazônia que o destino dos ovos de tracajá é a cidade de Rio Branco, capital do Acre, a 231 quilômetros de Cobija.

Vale lembrar que a  legislação boliviana proíbe a captura e o cativeiro de animais selvagens e seus respectivos produtos.

Além disso, o Código Penal estabelece pena de até seis anos de prisão pelo crime de destruição ou deterioração da propriedade do Estado e da riqueza nacional.

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