‘Cunhadas do Acre’: mulheres de presos fazem grupo de apoio e viram influenciadoras na internet

“Uma apoia a outra. O sistema é muito complicado. As pessoas de fora não enxergam", diz uma das cunhadas entrevistadas pelo ContilNet

Nos últimos meses, o TikTok presenciou o surgimento de uma nova febre: as cunhadas, termo criado para se referir a mulheres conhecidas por ter algum tipo de relacionamento com detentos.

O termo cunhadas surgiu dentro das celas em razão dos homens presos, que muitas vezes enxergam os seus companheiros como irmãos, ou seja, suas esposas se tornam cunhadas uns dos outros.

Termo ‘cunhadas’ ganhou repercussão nos últimos anos/Foto: ANDRESSA ANHOLETE/Ilustrativa

No Acre, o ContilNet teve acesso a grupos de WhatsApp com mais de 500 mulheres de detentos, espalhadas em diferentes municípios do estado. Uma delas é Thatianne Costa, que explicou que intenção dos grupos é criar uma rede de apoio para as cunhadas, que quase sempre são estigmatizadas pela sociedade.

“Uma apoia a outra. O sistema é muito complicado. As pessoas de fora não enxergam. Mas dentro a gente sabe o sofrimento, as humilhações que passamos. E aí é uma dando suporte para outra. Quem está aqui fora não sabe o que acontece lá dentro”, disse.

Ainda na entrevista, ela conta as principais dificuldades encontradas por ela e por mulheres, que muitas vezes são forçadas a equilibrar suas próprias vidas com as demandas emocionais e práticas da vida de um detento.

Grupos somam mais de 500 mulheres e serve como rede de apoio para as ‘cunhadas’/Foto: Reprodução

A principal queixa entre as cunhadas é justamente os mecanismos impostos pela administração penitenciária, que dificultam o acesso delas às visitas dos maridos. Uma delas, é a retenção da carteirinha de visita sem justificativa, necessária para a entrada delas durante as visitas. Ela cita ainda um caso recente que aconteceu na Penitenciária de Tarauacá, em que quase 20 mulheres ficaram quase 4 horas esperando o início da visita após um atraso da administração do presídio.

“Eles não estavam nem aí. Faziam de tudo para demorar. Nessa última vez aconteceu de uma mãe ser agredida na frente por uma agente penitenciária”.

Thatianne lembra que as cunhadas desempenham um papel crucial na vida dos detentos e na dinâmica familiar. Vem delas o suporte emocional, logístico e financeiro enquanto eles cumprem suas penas.

“Eles já estão lá pagando pelo o que eles fizeram. A gente não tem culpa. A gente só está lá porque a gente visita o marido. Uma mãe visita um filho, uma mulher visita o esposo. Então gente, está lá para ajudar eles, não pra atrapalhar. O preso quando ele tem uma visita é gratificante, ele tem uma chance de se socializar aqui fora. Ele sabe que vai esperar a visita, a visita vai conversar com ele, vai apoiar, vai dizer que está esperando ele lá fora, que vai dar certo.  Tudo isso é importante para ele. O preso sem uma visita, é um preso sem coração”.

Além do grupo de apoio, algumas cunhadas também decidiram começar a contar um pouco da rotina nas redes sociais. Foi aí que muitas delas começaram a virar influenciadoras com milhares de seguidores no TikTok.

É o caso da acreana Kalinne Silva, com quase 20 mil seguidores na plataforma. Com os vídeos sobre a rotina de mulher de preso, ela atingiu mais de 100 mil curtidas no seu perfil.

@kalinne.silvaa

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