Evo Morales não comparece a depoimento e pode ser preso por acusações de estupro

Defesa do ex-presidente boliviano alega falta de garantias para depoimento, enquanto tensões políticas aumentam no país

O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, não se apresentou ao depoimento marcado para esta quinta-feira (10) na Delegacia Geral de Polícia de Tarija.

Ele é acusado de estupro e tráfico de pessoas, por supostamente ter mantido relações com uma jovem de 15 anos em 2015, quando ainda era presidente. A acusação alega que Morales teve uma filha com a adolescente em 2016.

A defesa de Morales justificou a ausência alegando a falta de garantias legais e o risco de ataques contra ele. O comandante da Polícia de Tarija, José Illanes, destacou que foram mobilizados 620 policiais para garantir a segurança durante o depoimento, mas mesmo assim o ex-presidente não compareceu.

Segundo a legislação boliviana, se Morales não se apresentar, uma ordem de prisão poderá ser emitida.

Evo Morales, ex-presidente da Bolívia, em meio a acusações de estupro, enfrenta crise política que pode gerar impactos nas regiões de fronteira/Foto: Reprodução

Morales critica o processo, que ele considera uma tentativa de desestabilizá-lo politicamente. Ele já havia sido investigado pelo mesmo caso em 2020, durante o governo interino de Jeanine Áñez, mas a investigação foi arquivada. Agora, Morales acusa o governo do atual presidente Luis Arce, que foi seu aliado, de “inventar” as acusações para prejudicá-lo nas eleições de 2025.

Essa disputa entre Morales e Arce dentro do partido governista, o Movimento Al Socialismo (MAS), tem criado uma crescente tensão política na Bolívia, com possibilidade de manifestações caso uma ordem de prisão seja emitida. Morales conta com forte apoio popular, especialmente em sua região natal de Cochabamba, e qualquer ação contra ele pode resultar em greves e protestos.

Para o Acre, estado vizinho que compartilha uma extensa fronteira com a Bolívia, os desdobramentos dessa crise política são acompanhados de perto pois o estado mantém relações econômicas e comerciais significativas com o país vizinho, e a instabilidade política pode afetar o comércio e o trânsito na fronteira, além de criar potenciais desafios de segurança e imigração.

O histórico de tensões na Bolívia já demonstrou, em outros momentos, que o impacto pode ultrapassar as fronteiras, influenciando diretamente o cotidiano das regiões de fronteira.

A investigação em torno de Morales inclui, além da acusação de estupro, alegações de que ele teria organizado uma rede de jovens adolescentes chamada “Geração Evo” para seu uso pessoal.

O Ministério Público também investiga os pais da jovem envolvida no caso, que teriam aceitado dinheiro em troca de favores.

Evo Morales, que governou a Bolívia por quatro mandatos consecutivos, tenta reverter a decisão do Tribunal Constitucional que o impede de concorrer às eleições de 2025. O ex-presidente continua a alegar que as acusações são parte de uma conspiração política para removê-lo da disputa eleitoral.

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