O imbróglio internacional que envolve Adele e Toninho Geraes, diante da acusação do brasileiro de que a britânica teria plagiado uma canção sua, ganhou mais um capítulo. Uma reunião de conciliação colocou frente a frente o sambista e representantes da Universal Music Publishing Brasil, editora da cantora no país, ontem. O resultado do encontro, porém, frustrou Toninho e seus advogados — eles afirmam que a Universal não apresentou, no fim, nenhuma proposta de conciliação.
A reunião entre as partes foi conduzida pelo juiz Victor Torres, da 6ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro. Foi ele quem expediu a liminar, na última sexta-feira (13), decidindo pela derrubada nas plataformas digitais da música “Million years ago”, de Adele, suposto plágio de “Mulheres”, de Toninho Geraes.
— Em 38 anos de profissão, poucas vezes eu vi na minha frente um escárnio dessa forma — diz a advogada do sambista, Deborah Sztajnberg. — O que fizeram com o Toninho foi imoral. Trataram ele como lixo. Coisa de gravadora multinacional, acha que o pobre coitado vai cair na deles.
Ausência de Adele e crise de choro
Segundo a defesa de Toninho, esperava-se que a própria Adele e seu produtor, Greg Kurstin, que é coautor de “Million years ago”, participassem da reunião. Havia, inclusive, um link para que eles participassem remotamente. Nem Adele, nem Greg, no entanto, deram as caras no encontro.
Em determinado momento da reunião, quando o juiz pediu para que Toninho contasse sua versão de toda a história, o músico teve uma crise de choro. Toninho passou mal e teve de ser acalmado por sua equipe jurídica.
— Foram quase 4 horas de audiência. Se você pede uma reunião para acordo, você que faça sua proposta de acordo, afinal você é réu — diz a advogada Deborah Sztajnberg, que representa Toninho Geraes. — Mas foi um escárnio total, eles disseram que não tem acordo. Ué, então algum capítulo da novela eu perdi. Eu levo até lá o autor, desgastado, sem dormir, e que não é um garoto, tem 62 anos. Paramos todos para ir até lá, mas mobilizaram tudo isso pra nada. Não tinha proposta de acordo. Não tinham sequer procuração da Adele e Greg pra representar eles.
Próximos passos
De acordo com Sztajnberg, o juiz determinou que fosse feita uma perícia para avaliar se, de fato, “Million years ago” é plágio de “Mulheres”. Até então,somente laudos produzidos tanto pela defesa quanto pela acusação estavam arrolados no processo. A perícia está a cargo de uma professora da Escola Nacional de Música da UFRJ.
Enquanto isso, “Million years ago” segue disponível em todas as plataformas. Na liminar, o juiz Victor Torres dizia que a multa em caso de descumprimento da derrubada seria de R$ 50 mil.
— A gente está tão abalado quanto o Toninho, e pelo Toninho. Eles tinham que ter um pingo de dignidade com um senhor de 62 anos. A gravadora massacrou ele. Agora, foi nomeada essa professora pra fazer um laudo preliminar. O juiz vai mandar pra ela o material, e ela analisando o material de ambas as partes, vai dar um laudo dizendo se ela acha se foi plágio ou não. Agora, por conta dessa confusão de ontem, tecnicamente eles (Adele e Greg) estão citados. Mas o fórum já fechou, já houve recesso, agora vamos ver se eles vão tirar a música ou não.
Procurada pelo GLOBO, a equipe jurídica que representa a Universal não quis comentar o caso.