“O Hino que canta a Terra e a Alma”: artigo faz homenagem a capital acreana e os mistérios da floresta

Artigo foi produzido por Pitter Lucena

O Hino de Rio Branco não é apenas uma canção, é uma ode que sussurra os mistérios da floresta, os ecos dos rios e o pulsar da terra que se entrelaçam com as histórias que se fundem ao solo.

Composição de Chico Chagas, Paulo Arantes e Graça Gomes, a melodia é como uma brisa suave que corre pelos campos e se mistura com a fragrância das árvores e o som das águas, refletindo o espírito da capital acreana.

Nas primeiras linhas do hino, o rio – aquele que é o espelho da cidade – é personificado como o grande testemunho do nascimento de uma vila, que germina no ventre da floresta.

“Abraçado pela mata”, o rio é mais que uma fonte de vida; ele é o que revela, o que alimenta, o que cria. Ele foi o primeiro a ver a terra se formar, a gente surgir, as raízes se firmarem.

Com ele, nasceu Rio Branco, e de seus braços brotaram sonhos, sorrisos, e o pulsar constante de uma cidade que, aos poucos, foi se tornando a joia que é.

E enquanto o rio se estende, a terra também se faz rica em poesia. Cada gota que cai do céu, cada raio de sol que toca o chão, é uma promessa de vida que brota e floresce.

O hino nos leva pela jornada de uma cidade que é como o toque de uma mão materna: “Luz, a quem vem chegando / Chuva, para o chão brotar.”

A metáfora do céu abençoando é como o manto da divindade que cobre a cidade com uma aura de proteção, como se cada canto de Rio Branco fosse um sagrado espaço de nascimento e renascimento. Cada amanhecer é uma celebração silenciosa dessa dádiva.

A cidade é mais que um lugar geográfico; ela é o coração pulsante do estado, rodeada de belezas e guardiã de uma história ímpar. “Capital da natureza”, o hino nos apresenta Rio Branco como o ponto de convergência entre os elementos – o ar, a água, a terra – que formam o laço invisível que mantém a cidade viva e vibrante.

Artigo foi produzido.
por Pitter Lucena. Foto: ContilNet

O hino não apenas canta a cidade, mas a reverencia como um ser único, como uma musa que inspira suas gentes, com “um sinal, de encanto e sedução.”

E os povos da floresta? São os protagonistas dessa história, a seiva que nutre a alma da cidade. O hino é uma homenagem a esses seres que pertencem à terra, que são parte do céu e da água, que vivem entre o mito e a realidade.

O hino os descreve como parte da “seiva, vida pra ganhar”, e há uma profundidade na imagem da sanfona tocando em meio a uma festa, como um ciclo eterno de alegria e trabalho, que só quem entende o calor da floresta sabe realmente como celebrar.

A beleza do povo que constrói Rio Branco é visível nos versos: “Nossa gente mescla as cores / Sempre um povo tão gentil.” Aqui, a cidade não é apenas uma mistura de raças, mas um “buquê de muitas flores”, uma aquarela viva que carrega as cores do Brasil.

O hino celebra essa diversidade como uma força que gera, cria, ama e faz. A cidade não é feita de muros, mas de encontros, de vivências compartilhadas.

E, então, a cidade se revela na sua essência mais pura: “Nós, somos a história / Lendas, cantos e paixão.” O passado e o presente se entrelaçam, como uma tapeçaria que nunca perde seus fios, sempre renovada e enriquecida.

Rio Branco não é só uma cidade; ela é a inspiração dos poetas, o berço das histórias que nunca morrem, as lendas que vivem nos corações daqueles que a habitam. E como toda cidade que tem alma, Rio Branco celebra sua vida.

A celebração da “alegria”, o “clarão na Hileia tropical”, nos fala da vitalidade que a cidade possui. Um lugar onde, na “Amazônia ocidental”, a celebração é constante e nunca silencia.

É uma terra de possibilidades infinitas, onde a vida canta alto e com força. “Gameleira é poesia” se torna um símbolo do amor que cresce na cidade, uma árvore que é ao mesmo tempo abrigo, proteção e poesia.

Cada galho que se estende é como uma melodia que reverbera na alma de quem passa por ali, e a cidade se torna um grande poema, onde cada folha é uma palavra, cada ramo uma linha, e cada flor, uma estrofe de amor à vida.

E então vem o refrão – um grito, um hino de guerra e de amor ao mesmo tempo: “Seringueiros vão à guerra / Brasileiros com armas na mão.” É a história de um povo que, com coragem, defendeu seu pedaço de terra, o seu chão sagrado.

Rio Branco é o testemunho dessa luta, dessa força, dessa resistência que corre nas veias da cidade, que construiu sua identidade entre lutas e sonhos. O refrão ecoa como um juramento de pertencimento, um lembrete de que a terra é sagrada, que cada pedaço de chão que se pisa é mais que solo: é história, é amor, é luta.

Rio Branco é um lugar onde cada verso, cada nota, e cada alma se encontram. Em seu hino, a cidade é mais do que apenas um nome no mapa: ela é a celebração de um povo, de uma história, de uma terra que se eterniza na canção. É a memória viva de tudo o que foi e tudo o que será, um eterno canto de amor à vida.

A composição do hino de Rio Branco não foi apenas um trabalho artístico; foi uma verdadeira odisseia de coração e mente, uma jornada profunda para captar a alma da cidade em poucas palavras e notas.

A cidade, que cresceu abraçada pela imensidão verde da Amazônia, precisava de uma canção que, ao soar, carregasse em seu timbre as memórias da luta, o perfume das flores e o rugido do rio que a cerca. Mas, como construir algo tão vasto em tão pouco tempo?

O edital impunha uma melodia e uma letra que, embora simples, precisavam falar de um lugar complexo, onde o ontem e o hoje se entrelaçam nas veredas do presente.
Chico Chagas, com sua genialidade e sensibilidade musical, traçou o caminho com uma melodia que pulsava como o próprio sangue da cidade.

Sua escolha de um dobrado, uma forma tradicionalmente usada em hinos, era uma âncora no tempo, enquanto seu arranjo tornava-se uma ponte para o futuro. O dobrado, com sua cadência forte e solene, soava como os passos firmes da cidade que se erguia entre a selva e o progresso. Em cada acorde, era possível ouvir o murmúrio do rio, o farfalhar das folhas e o pulsar das ruas que testemunhavam a vida de quem ali vive.

A letra teve de ser mais do que palavras. Foi preciso penetrar nas fibras da história, capturar o espírito da terra, a cor da gente. Paulo Arantes e Graça Gomes, com a clareza dos poetas e a sabedoria dos mestres, traçaram uma linha do tempo que começava no suspiro da floresta e se estendia até os campos e praças de Rio Branco.

Em poucos versos, tiveram que mergulhar na fundação da cidade, na sua geopolítica, na riqueza das suas águas, na luta de seus povos. A tarefa parecia impossível: como condicionar toda a grandiosidade de uma história em uma melodia de apenas três minutos?

Foi um trabalho de reescrever o tempo, de condensar séculos de vida em um hino capaz de ser lembrado por todos. Não era só a cidade que se levantava na melodia, mas também os que a construíram.

O hino tinha de carregar a força da seringa, a luta dos seringueiros, a coragem dos primeiros moradores, e ainda o frescor da vida moderna, da cidade que, a cada ano, se renovava como uma flor que se abre ao amanhecer.

E então, Graça Gomes, com seu olhar afiado e sua alma de cantora, completou a obra com o refrão, a alma da canção. Foi como se as palavras de Paulo ganhassem asas, se transformassem em uma celebração a cada vez que o coral, cuidadosamente formado, as cantasse.

O coral, composto por Graça Gomes, Hedhaida, Lourdes, Gorette, Maria Rita, Paulo Arantes, Sávio e Franklin Pinheiro, foi a voz que ecoou a cidade, o coração que pulsava nas notas afinadas. Cada um deles, como parte de um corpo coletivo, trazia consigo a paixão e o amor pela cidade, tornando-se a ressonância da terra, do rio, da floresta e do povo.

A adaptação não parou por aí. As vozes precisavam se unir como os rios que se encontram na confluência, e para isso, a Banda da Polícia Militar trouxe o sopro da disciplina e a força da tradição. Suas notas eram o firmamento que sustentava as palavras e os acordes de Chico Chagas.

Como uma orquestra que interpreta a sinfonia de uma nação, os músicos tomaram o hino e o elevaram, tornando-o mais do que uma simples música. Ele se transformou em um elo, em uma ligação entre o passado e o futuro, entre a natureza selvagem e a cidade que pulsa de vida.

E então, quando o hino foi apresentado, o momento foi mágico. Cada verso soava como uma reverência à terra e ao povo. O céu que abençoa, o rio que une, a floresta que sustenta, e a cidade que cresce — tudo isso estava ali, nas notas que se espalhavam pelo ar. Era como se Rio Branco fosse mais do que uma cidade: era um ser vivo, respirando e cantando sua própria história, e o hino era sua voz.

O trabalho árduo de cada um dos envolvidos não foi apenas um esforço para ganhar um concurso. Foi um feito que gravou a cidade na memória dos que ali vivem, e, de alguma forma, no coração de todos que escutam sua música. O hino se tornava parte da vida cotidiana, não mais apenas uma canção, mas uma memória viva que ecoaria em todas as gerações.

E assim, Rio Branco, a cidade que nasce da selva e cresce sob o céu da Amazônia, agora tem sua voz. Uma voz que canta a sua história, suas lutas, suas glórias. O hino, com sua melodia suave e firme ao mesmo tempo, é mais do que uma composição. É a alma da cidade, a força de seu povo, e a certeza de que, mesmo nas dificuldades, a beleza da vida sempre encontrará seu caminho, como as águas que correm livres pelos rios da Amazônia.

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