O site Brasil em Mapas divulgou, durante o ano de 2024, diversos mapas e dados retirados das publicações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Dois desses mapas produzidos pelo veículo, quando analisados em conjunto, trazem um cenário curioso à tona.
A desaceleração no crescimento populacional no estado do Acre chamou atenção devido a projeção realizada de que apenas depois de 2070 o estado superaria a marca de um milhão de habitantes. Apenas o Amapá tem uma previsão parecida, também tendo o marco estipulado para além do ano 2070.
Em conjunto com a demora no crescimento populacional, outro dado apresentado pelos levantamentos realizados pelo Brasil em Mapas é que Plácido de Castro, cidade interiorana do Acre, é a única que apresentou redução populacional entre os anos de 2010 e 2022.
A fim de explicar este fenômeno de desaceleração do crescimento no estado, assim como a retração do número de habitantes de Plácido de Castro, a reportagem do ContilNet conversou com Silvio Simione, professor do curso de mestrado em Geografia na Universidade Federal do Acre (UFAC), também se formou na instituição e fez pós-doutorado pelo Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP).
Para além do crescimento orgânico da população, com nascimentos e mortes no estado, o pesquisador aponta outros fatores que influenciam na desaceleração observada no estado do Acre.
“Um ponto importante é a migração da população, temos que avaliar se um município ou estado é, ou não, uma área de atração populacional, a redução no número de filhos”, ressalta ele, explicando que a redução ocorre por diversos fatores, como maior presença das mulheres no mercado de trabalho, maiores informações sobre métodos contraceptivos e até mesmo uma mudança comportamental da sociedade, que opta por ter filhos em um período mais tardio da vida.
“Esses fatores estão ligados ao avanço tecnológico que nós temos, mais acessibilidade a educação, a modificação do mercado de trabalho e especialização dos profissionais, a priorização do lazer, já que ter filhos é custoso financeiramente”, exemplifica Simione.
A migração da população acreana também pode estar vinculada ao desequilíbrio de desenvolvimento regional. “Nós vivemos um processo de transição econômica, enquanto temos regiões com economia industrial avançada, temos regiões como a nossa, em que o setor primário ainda não é importante”, conta.
Com este ritmo diferente de desenvolvimento o pesquisador pontua que muitos profissionais que buscam maior especialização findam por sair do estado do Acre, em busca de mercados com mais espaços dentro de suas áreas profissionais
Simione conta que o prospecto feito pelo pelo Brasil em Mapas pode estar considerando apenas o estado atual, de maneira estática, mas que o Acre se encontra em uma posição geográfica privilegiada e que pode levar a um grande desenvolvimento nos próximos anos, a depender do desenrolar de obras e negociações com outros países.
“Somos a parte do território brasileiro mais próxima do litoral do Oceano Pacífico, portanto, existe uma possibilidade de sermos porta de entrada para todo um eixo de integração regional com o restante da América do Sul e consequentemente com o comércio internacional, principalmente vindo da Ásia”, conta ele, ressaltando que este seria um salto econômico grande e que funcionaria como um atrativo para que indústrias se instalassem no estado.
O pesquisador conta ainda que algumas regiões do estado já foram beneficiadas com a ligação da BR-317 com rodovias peruanas, e que isso alterou a dinâmica de municípios como Brasiléia, Assis Brasil e Capixaba, e que a possível integração com o porto que vem sendo construído no litoral peruano, assim como o projeto chinês de ferrovias que deve passar por diversos estados do Brasil como Goiás, Mato Grosso, Rondônia e também Acre, tem potencial para alterar as dinâmicas econômicas, sociais e demográficas.
Simione aponta ainda que não acredita no resultado obtido através dos dados do IBGE, por estes considerarem apenas a atual tendência de baixa no crescimento, e que tem uma previsão própria sobre o dado, considerando outras variáveis .
“Posso estar sendo otimista, mas isso deve acontecer nos próximos 20 ou 30 anos. Tomando dados do próprio IBGE, o Acre cresceu, nos últimos 12 anos, 1,1% ao ano. Se a gente aplicar esse percentual sobre a população daqui a 19 anos, nós teríamos um incremento populacional de 173.470 habitantes, já ultrapassando um milhão de habitantes entre 2040 e 2043”.
Já sobre o caso específico de Plácido de Castro, ele explica que, para além dos motivos já citados para esse deslocamento populacional, a falta de outros tipos de mercado além do funcionalismo público e o agronegócio fazem com que as pessoas
“Eu diria que a situação do Plácido está ligada primeiro a a consumação de um modelo produtivo vinculado ao agronegócio do gado ou a produção de grãos em médias e grandes propriedades, isso expropria a população rural . Temos a falta de atividades geradoras de emprego na área urbana para a população que sai do campo e vai para a cidade, que não dá oportunidade para a população, e assim ela procura outra cidade”