Relembre como médicos foram assassinados na Barra da Tijuca, caso que motivou operação desta sexta na Cidade de Deus

Dos quatro ortopedistas baleados, apenas um sobreviveu; agentes tentando prender suspeitos de participarem do crime

operação desta sexta-feira na Cidade de Deus, na Zona Oeste, é parte das investigações sobre a morte de três médicos em outubro de 2023. À época, eles aproveitavam o tempo livre num quiosque da Barra da Tijuca, após passarem o dia em um congresso de ortopedia, quando foram atacados por traficantes do Comando Vermelho. A principal hipótese do crime, segundo a polícia, é de que uma das vítimas foi confundida com um miliciano de Rio das Pedras, região até hoje em disputa.

Até o momento, nenhum dos cinco mandados de prisão foi cumprido, mas os agentes destacaram que foram apreendidos armas, munições e drogas. Ação também recebeu apoio do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (Gaeco), do Ministério Público (MPRJ).

Bandidos matam três médicos e ferem um quarto em quiosque na Barra da Tijuca

Relembre o caso

As vítimas

O crime aconteceu em 5 de outubro de 2023, no quiosque Naná 2, em frente ao Hotel Windsor, na Barra da Tijuca. Os médicos Marcos de Andrade Corsato, de 62 anos, e Perseu Ribeiro Almeida, de 33, morreram ainda no local. Diego Ralf de Souza Bomfim, de 35, foi socorrido, mas não resistiu. Já Daniel Sonnewend Proença, de 32, foi o único sobrevivente.

Em dezembro do ano passado, em entrevista exclusiva ao GLOBO, Daniel contou sobre o dia do crime e dos desafios da recuperação. Ele foi baleado de 14 a 20 vezes pelos criminosos. No depoimento, comentou que só voltaria ao Rio se fosse extremamente necessário.

— Várias pessoas me pediram desculpas pelo que aconteceu. Nesse momento, percebi uma certa aceitação, uma banalização da violência. Como é viver o tempo todo com medo num estado onde não se sabe se vai chegar com vida ao trabalho ou em casa?

Médicos Marcos de Andrade Corsato, Perseu Ribeiro Almeida, Diego Ralf Bonfim e Daniel Sonnewend Proença foram alvo de ataque a tiros no Rio — Foto: Reprodução
Médicos Marcos de Andrade Corsato, Perseu Ribeiro Almeida, Diego Ralf Bonfim e Daniel Sonnewend Proença foram alvo de ataque a tiros no Rio — Foto: Reprodução

Segundo a investigação da Delegacia de Homicídios (DH), os médicos teriam sido mortos por engano, já que Perseu Ribeiro de Almeida teria sido confundido com o chefe da milícia de Rio das Pedras, Taillon de Alcântara Pereira Barbosa, de 26 anos. O crime, para os agentes, não foi previamente planejado, uma vez que os acusados não se importaram em tapar o rosto e agiram na pressa — a ação durou cerca de 25 segundos, entre idas e vindas ao veículo em que estavam.

O trabalho da polícia também apontou que, por trás das execuções, estava o avanço territorial do CV no Rio, que tenta, desde 2022, retomar regiões da milícia, como Rio das Pedras. A facção teria aproveitado o momento de fragilidade dos grupos paramilitares para se reorganizar e começar o movimento de expansão.

Philipp Motta Pereira, o Lesk, e Ryan Soares de Almeida: traficantes que teriam sido executados por participação no triplo homicídio de médicos — Foto: Reprodução
Philipp Motta Pereira, o Lesk, e Ryan Soares de Almeida: traficantes que teriam sido executados por participação no triplo homicídio de médicos — Foto: Reprodução

Os acusados

Quatro traficantes são suspeitos dos assassinatos, sendo que dois deles foram executados pela própria facção 12 horas após o crime. Os corpos de Philip Motta Pereira, o Lesk, e Ryan Soares de Almeida foram encontrados nos arredores da Gardênia Azul, na Zona Oeste. O outro acusado é Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, o BMW. Todos eles são ex-paramilitares, que mudaram de lado e foram para o Comando Vermelho.

Segundo a polícia, Lesk, Ryan e BMW eram integrantes da Equipe Sombra, grupo responsável por invasões às comunidades da Zona Oeste, historicamente dominadas por grupos paramilitares. A descoberta dela aconteceu durante as investigações das mortes dos médicos.

Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, o BMW, e Edgard Alves de Andrade, o Doca — Foto: Reprodução
Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, o BMW, e Edgard Alves de Andrade, o Doca — Foto: Reprodução

Como BMW não estava presente na execução dos médicos, a facção criminosa decidiu que ele não seria punido pelo engano. Apesar da participação em diversos crimes, incluindo 10 assassinados investigação pela Delegacia de Homicídios, o traficante nunca foi preso.

O trabalho da polícia também apontou que outro traficante deu abrigo aos suspeitos após a morte dos médicos. Carlos Henrique dos Santos, o Carlinhos Cocaína, de 52 anos, morto em janeiro deste ano, era dono de trechos da Cidade de Deus. Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, Carlinhos Cocaína teria arrendado a localidade conhecida como “Apartamentos” para que a Equipe Sombra se escondesse, tudo com aval de Edgar Alves de Andrade, o Doca, apontado como um dos integrantes da alta cúpula da facção.

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