O presidente da Bolívia, Luis Arce, anunciou em La Paz que desistiu de concorrer à reeleição no pleito de agosto deste ano. Analistas internacionais afirmam que a decisão tem relação direta com o fracasso de seu governo, considerado um dos mais impopulares da história boliviana.
Arce abriu mão da candidatura a um novo mandato de cinco anos apenas algumas semanas após ser proclamado candidato pelo partido Movimento ao Socialismo (MAS). O mandatário enfrenta, há mais de um ano, uma grave crise econômica, provocada pela escassez de dólares e combustíveis, que resultou em protestos.
Economista de 61 anos, Arce aparecia mal nas pesquisas: a mais recente, publicada no fim de março pela consultoria Captura, mostrava o presidente com apenas 1% das intenções de voto.
“Anuncio hoje ao povo boliviano, com absoluta firmeza, minha decisão de declinar minha candidatura à reeleição presidencial”, declarou Arce, em mensagem exibida pela emissora oficial Bolívia TV.
Ao mesmo tempo, propôs “a mais ampla unidade da esquerda” para buscar uma candidatura única que enfrente a direita. O atual presidente foi ministro da Economia durante a maior parte do governo de Evo Morales (2006–2019), hoje seu maior adversário político. O líder indígena, que busca seu quarto mandato, acusa Arce de orquestrar uma suposta perseguição judicial contra ele para impedi-lo de disputar as eleições de agosto.
Uma decisão judicial determinou, no final de 2023, que ninguém pode exercer a presidência por mais de dois mandatos. Com Arce fora da campanha, a disputa pela liderança da esquerda envolverá Morales e o atual presidente do Senado, Andrónico Rodríguez, que rompeu com o líder cocaleiro ao anunciar sua intenção de disputar o pleito.
Durante seu discurso, Arce convocou Rodríguez e outras forças de esquerda a “pensar e agir em função da unidade”. “Para a oposição” de direita, dividida em várias candidaturas, enfrentar uma esquerda unida “é o cenário mais complicado”, disse à AFP o analista político Carlos Cordero.
Rodríguez, segundo as pesquisas mais recentes — que excluem Morales devido ao seu impedimento legal —, lidera as intenções de voto com 18%.
Arce assumiu o poder em novembro de 2020, após vencer as eleições com 55% dos votos. Na época, era lembrado pelo bom desempenho econômico que a Bolívia teve durante seus quase 12 anos à frente do Ministério da Economia. Nesse período, o país triplicou a produção interna e reduziu a pobreza de 38% para 15%.
As divisas obtidas com a exportação de gás sustentaram uma robusta política interna de subsídios, especialmente para combustíveis.
Após assumir a presidência, a queda na produção de gás comprometeu a economia. O governo teve que recorrer às reservas internacionais para importar gasolina e diesel e vendê-los a preços subsidiados, o que provocou uma escassez de dólares.
Em abril, a inflação acumulada em 12 meses chegou a 15% — a maior taxa registrada no país desde 2008.