Laudos psicológicos feitos por peritos da Justiça de Mato Grosso do Sul se contradizem ao tentar traçar um perfil de Antônio Benites, suspeito que confessou o assassinato da irmã, Patrícia Benites, no bairro Tiradentes, em Campo Grande.
O Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJ/MS) informou que não vai se pronunciar sobre decisões judiciais. O g1 MS tentou contato com os peritos que assinam os laudos do suspeito, mas até a mais recente publicação da matéria não conseguiu.
Quando cometeu o crime, entre quinta e sexta-feira passada (dias 26 e 27), Benites estava em liberdade condicional, sendo monitorado por tornozeleira eletrônica. Ele já havia sido preso por roubar e estuprar a própria cunhada (em 2012) e também por tentar matar a esposa e o filho do casal. Enquanto esteve preso, fugiu por três vezes da penitenciária.
O primeiro laudo, de 2019, foi feito demandado pela Justiça na análise de pedido de progressão de pena no processo pelo roubo e estupro da cunhada. O perito aponta no documento, que Benites teria transtorno de personalidade antissocial, um padrão de “desrespeito e violação dos direitos dos outros, que começou na infância e continuou em sua vida adulta”. Define esse padrão como “psicopatia, sociopatia ou transtorno de personalidade dissocial”.
A análise ainda indica que o suspeito é considerado impulsivo, tem agressividade irritável e personalidade arrogante, pretensiosa e infantil. O laudo afirma que ele não possuía condições psicológicas de aceitar o convívio social e cumprir regras, nem possuía capacidade psicológica para trabalhar sem supervisão do Estado.
Em 2020, outro perito judiciário analisou o suspeito. O seu laudo indicou para a Justiça novamente que Benites representava um perigo para a sociedade. O especialista o descreveu como possuidor de uma “grave alteração de caráter, instabilidade afetiva emocional, egocentrismo, impulsividade e tendência à agressividade”.
Um ano depois, em 2021, o perito que fez a análise em 2019 voltou a examinar o caso e chegou a uma conclusão totalmente diferente da registrada anteriormente. No laudo que assina, o profissional diz que Benites demonstrou capacidade psicológica para controlar e sublimar suas “pulsões agressivas” e mais, que a personalidade do então, detento, estava “preparada para a segura reinserção social”. Deste modo, o perito recomendou que o suspeito obtive o benefício da progressão de pena.
Em 2022, com essa recomendação, o suspeito, preso na época pela tentativa de homicídio contra a ex-esposa e os filhos, conseguiu a liberdade condicional, com monitoramento por tornozeleira eletrônica. Quando ele assassinou a irmã, ele ainda estava com o equipamento, mas depois, para tentar fugir cortou a cinta que prendia o aparelho a perna.
Prisão decretada
Benites foi preso na manhã de domingo (29) e estava sendo procurado desde sexta (27), quando o crime foi descoberto. Patrícia Benites foi morta na frente dos filhos, de 3 e 5 anos, na casa em que morava com a família no Bairro Tiradentes, em Campo Grande. Ele foi localizado por policiais militares na região do anel viário, na saída da cidade para Três Lagoas
Depoimento
Durante o depoimento à polícia nesta segunda-feira (30), o suspeito confessou o crime e disse ter enforcado a vítima durante discussão. A princípio, ele disse que chegou a pensar que a vítima estivesse apenas desmaiado. Ele disse ainda que os filhos da irmã não viram a mãe morrer.
Conforme a delegada Elaine Benicasa, da Deam, a informação está sendo apurada e, para confirmar o que diz o suspeito, as crianças vão passar por depoimento especial, na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca).
O desaparecimento de Patrícia chamou a atenção de familiares, que passaram o dia em busca dela. Somente no período da tarde, depois que conseguiram invadir a casa da família, é que encontraram o corpo no quintal.
Para a polícia, Benites não demonstrou arrependimento pelo assassinato da irmã.
Entenda o crime
Antônio e Patrícia viviam em uma família de dez irmãos, mas só os dois moravam com os pais no Tiradentes. Um dos parentes contou que na noite de quinta para sexta-feira, os dois beberam juntos em casa, mas que a relação era marcada por brigas sempre que isso acontecia.
Naquela noite, especificamente, os irmãos estavam sozinhos em casa e só no dia seguinte os parentes notaram algo diferente. Durante toda a sexta-feira, Antônio agiu de forma “estranha”. Nas primeiras horas do dia chegou a ir na casa de um irmão pedir uma pá emprestada. Para isso, alegou que construiria uma fossa.
Mesmo desconfiado, o irmão emprestou a ferramenta. Na ocasião, o suspeito ainda disse que Patrícia tinha sumido com os filhos, mas apareceu pouco depois para avisar que ia trabalhar e por isso precisava deixar as crianças com ele. Nervoso, ele não deixou ninguém entrar na casa dos pais, mas não conseguiu impedir os sobrinhos de encontrarem outros primos.
Foi assim que o filho mais velho de Patrícia contou para um primo, de 8 anos, que o tio tinha batido nele e matado a mãe. Na hora, o menino não deu importância, mas horas depois relatou para a mãe sobre a conversa. A família “juntou as peças” e foi até a casa da vítima, forçou o portão para entrar e encontrou o corpo.
Patrícia estava enrolada em um lençol, debaixo de uma pia de concreto e ao lado de um buraco cavado pelo irmão, para ser uma “sepultura”.