Médico critica “kit covid” criado pela prefeitura e alerta para problemas hepáticos

A aquisição do “kit covid” pela Prefeitura de Rio Branco recebeu inúmeras críticas por parte dos internautas e profissionais de Saúde no Acre, durante toda a semana.

O prefeito Tião Bocalom e o seu secretário de Saúde, Frank Lima, bateram o martelo e colocaram azitromicina e ivermectina como medicações que podem ser utilizadas para o tratamento da covid-19 em Rio Branco, mesmo os fármacos não tendo nenhuma comprovação científica para o objetivo apontado.

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De acordo com a prestação de contas publicada em um das edições do Diário Oficial do Estado (DOE), o executivo municipal gastou mais de R$ 700 mil com a compra das duas medicações. Frank Lima anunciou à imprensa, posteriormente, que ambos fazem parte da lista de compras da atenção farmacêutica de Rio Branco.

Além de desacordos partindo da Câmara Municipal e da população riobranquense, Bocalom também foi alvo de críticas por parte de alguns especialistas, como médicos, por exemplo.

Procurado pela reportagem do ContilNet, o imunologista Guilherme Pulici esclareceu que “nenhum medicamento deixa de oferecer riscos aos pacientes”, no entanto, “é incorreto utilizar qualquer um que não tenha embasamento técnico-científico”.

“Nenhum medicamento deixa de oferecer riscos aos pacientes e, por isso, precisamos sempre colocar na balança e pesar os benefícios. Se os benefícios não são garantidos, oferecemos somente riscos aos nosso pacientes. Existe uma premissa dentro da medicina: primun non nocere (em latim, primeiramente não causar dano). Creio que, dentro dos preceitos éticos, é incorreto utilizar qualquer medicação que não tenha embasamento técnico-científico”, destacou o médico.

“O Conselho Federal de Medicina entende que cada médico deva ter liberdade de prescrever o que achar melhor para seu paciente. Porém, dentro do Código de Ética Médico há artigo que define exatamente que o médico deverá usar o melhor conhecimento científico em prol do seu paciente. Portanto, em caso de efeitos adversos, o médico pode responder eticamente por isso”, continuou.

Na mesma ocasião, Pulici defendeu que a aquisição da medicação para tratamento da doença causada pelo novo coronavírus vai na contramão dos conhecimentos adquiridos até o momento, apontando, inclusive, complicações graves geradas pelo uso indiscriminado das composições.

“Pra quem ainda tem dúvidas sobre o uso desses medicamentos, sugiro alguns questionamentos: alguma sociedade médica de especialidade defende seu uso no Brasil ou no Mundo? Algum país desenvolvido preconiza seu uso? Como se pode ver, as respostas são negativas. As únicas evidências que tivemos até o momento é de que essas medicações causaram hepatite medicamentosa em muitas pessoas levando algumas à fila de transplante hepático”, questionou.

“Perdemos tempo e dinheiro com esse assunto enquanto países sérios, como os EUA, aceleram a vacinação, chegando ontem em pessoas com 40 anos de idade”, finalizou.

O Ministério Público do Acre (MPAC) deve discutir o assunto nos próximos dias, de acordo com o promotor de Defesa da Saúde, Gláucio Ney Oshiro.

Durante uma audiência pública na Câmara Municipal de Rio Branco, no último dia 9 de março, Tião Bocalom defendeu o uso da cloroquina – outro remédio também inserido no kit covid – e ainda disse que ele e o governador Gladson Cameli fazem uso do fármaco desde o ano passado.

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