Três em cada quatro hectares da floresta amazônica brasileira e internacional foram transformados em pastagem para gado em quase quatro décadas. Isso significa 71 milhões de hectares somente dentro do Brasil, revelam dados do MapBiomas. O projeto MapBiomas é um projeto de iniciativa do Observatório do Clima com tecnologia desenvolvida por uma rede multi-institucional envolvendo universidades, ONGs e empresas de tecnologia com o propósito de mapear anualmente a cobertura e uso da terra do Brasil e monitorar as mudanças do território.
As últimas imagens de satélite do MapBiomas mostram que a conversão de florestas em pastagens e outros usos é mais forte no território brasileiro, notadamente no arco do desmatamento, no Sul da Amazônia, na região de fronteira com o Acre. Essa região, já conhecida dos cientistas, vai do Pará ao Acre, passando por Mato Grosso e Rondônia, entrando pelo sul do estado do Amazonas.
A região sul do Amazonas, onde passa o arco do desmatamento na Amazônia, compõe-se das microrregiões de Boca do Acre, Purus e Madeira. E seus municípios são: Boca do Acre, Pauini, Canutama, Lábrea, Tapauá, Apuí, Borba, Humaitá, Manicoré e Novo Aripuanã – todos do Amazonas.
No Brasil, que responde por 61,9% do território amazônico, com 521,9 milhões de hectares, a área coberta por vegetação florestal nativa foi reduzida em 14% – ou 71 milhões de hectares, entre 1985 e 2022.
A perda líquida de florestas foi de 67,4 milhões de hectares (15,2%), segundo os dados que integram o MapBiomas Amazônia de cobertura anual e uso da terra, produzidos pela Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada/Raisg, no período entre 1985 e 2022.
O levantamento foi apresentado nesta durante a 28ª Conferência das Nações Unidas para Mudança do Clima, que está acontecendo em Dubai. A área avaliada vai além da Amazônia Legal brasileira, embora 61,9% do território analisado (521,9 milhões de hectares) fiquem no Brasil. Ela inclui os limites do bioma amazônico na Colômbia, Venezuela, Equador, Peru e Bolívia.
Além disso, entraram na avaliação a Guiana, Guiana Francesa e Suriname, que não pertencem à bacia do rio Amazonas, mas estão cobertos por floresta similar, em forma e composição, ao resto da região.
O levantamento mostra que dos 86 milhões de hectares de vegetação natural, eliminados no território analisado, 84 milhões foram convertidos em áreas agropecuárias e de silvicultura. Nesse aspecto, destaque para pastagem, que ocupa 66,5 milhões de hectares da área devastada entre 1985 e 2022 – ou 77% da área transformada.
Áreas para a agricultura, por sua vez, cresceram 19,4 milhões de hectares nos últimos 38 anos. Ao todo, os usos antrópicos da terra no Pan Amazônia, em 1985, respondiam por 51 milhões de hectares, ou 6% do bioma.
Em 2022, já eram 136 milhões de hectares, ou 16% do total. Isso representa um crescimento de 85 milhões de hectares, ou 169%, no período. A eliminação da vegetação atinge prioritariamente a floresta: apenas 6 milhões de hectares suprimidos no período eram de formações não florestais.
Embora o levantamento mostre que 81,4% da Amazônia ainda estejam cobertos por vegetação natural, apenas 73,4% são florestas – percentual que já está dentro da faixa estabelecida pela ciência como limite para que a Amazônia se mantenha ou se recupere, evitando o processo de savanização na região. Paralelamente ao avanço da agropecuária, é possível constatar um potente avanço de atividades minerárias, que cresceram 1.367% entre 1985 e 2022, atingindo meio milhão de hectares.
Outra mudança notável no período é a retração de 48% dos glaciares na região, decorrente do aquecimento global agravado pelo desmatamento e mudanças nos ecossistemas da Amazônia para a expansão de atividades econômicas.